Há 50 anos, o carioca Hélio Oiticica estremecia a arte brasileira, colocando o público como participante de sua obra

Hoje é o dia do artista plástico. E a revista 3Sinais sintetiza sua homenagem a todos que trabalham com arte, na figura de um artista carioca que teve a ousadia de reclassificar o próprio espectador, colocando-o na condição de participante: Hélio Oiticica (1937-1980).

Ele entendia que a arte, além de afetar comportamentos, “tem uma dimensão ética, social e política”. Oiticica desenvolveu uma série de projetos conhecidos como “Marginália”, que acabaram dando origem a um movimento homônimo que estremeceu o ambiente artístico brasileiro a partir de 1968. Aliás este é o ano que, segundo Zuenir Ventura, “não acabou”.  É o ano emblemático das grandes manifestações políticas na França. É nesse período que surgem no Brasil o cinema marginal, com Glauber Rocha e Rogério Sganzerla, a imprensa marginal com o jornal O Pasquim e a revista Flor do Mal, a literatura marginal com figuras como Waly Salomão, Torquato Neto e Chacal. Sem falar na música, como Jards Macalé, Sérgio Sampaio, Jorge Mautner, Caetano Veloso entre outros.

A obra ambígua e polissêmica de Oiticica dialoga diretamente com a transgressão, pois está umbilicalmente ligada àqueles que se estão à margem da cultura, da política e dos padrões estabelecidos pela sociedade burguesa. Com isso, ele contribuiu profundamente para até mesmo reconfigurar  a figura do artista, abrindo-se a novas experiências e linguagens.

Seja Marginal Seja Herói

Uma das obras mais conhecidas de Hélio Oiticica é sem dúvida “Bandeira-Poema [Seja Marginal, Seja Herói], de 1968, que foi utilizada como cenário de um show histórico na boate Sucata, do Rio de Janeiro, em outubro daquele ano, onde se apresentaram Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes, considerado uma espécie de gênese do movimento Tropicalista.

Parangulés

Hélio Oiticica era muito ligado ao samba, sobretudo à Mangueira. E foi desta relação com o samba que surgiram os chamados “Parangolés”, uma espécie de capa para vestir, com textos, fotos e muito colorida. Uma Obra-ação-multisensorial, como definia o próprio artista: “o objetivo é dar ao público a chance de deixar de ser público espectador, de fora, para participante na atividade criadora”. Ou seja, o Parangolé é “anti-arte por excelência”, em cuja exposição o espectador veste a obra e esta ganha uma nova vida naquele momento. A obra, portanto tem uma capacidade enorme de fazer com que aquele que antes era apenas espectador ,agora seja um criador. O poeta carioca Waly Salomão fala que – “é o processo criativo total que é ativado impedindo o fetichismo coagulador da obra feita”.