A relíquia de 1921 e que  mostra uma multidão de 100 mil pessoas no enterro do jornalista,  foi encontrada pelo pesquisador e restaurador Antônio Venâncio

O pesquisador e restaurador Antônio Venâncio encontrou um registro inédito, em filme, do cortejo fúnebre do jornalista, cronista, escritor e teatrólogo João do Rio, morto em 1921 na capital fluminense. A notícia foi publicada recentemente no jornal O Estado de São Paulo.

O cortejo foi acompanhado por cerca de 100 mil pessoas até o cemitério São João Batista, em Botafogo. Venâncio sabia da existência do filme, pois havia assistido numa mostra na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, mas depois a única cópia desapareceu. Até que um dia uma senhora chegou em sua casa dizendo que tinha uma lata com o filme, com  13 minutos de duração e que mostra trajetos do velório até o cemitério. A partir daí houve um trabalho minucioso de restauração, pois o filme estava bastante danificado.

João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, ou simplesmente João do Rio amava incondicionalmente as ruas do Rio de Janeiro do início do século XX. O jornalista, escritor, cronista e teatrólogo dizia que elas tinham alma.  Em seu livro de crônicas “A alma encantadora das ruas”, ele traduz as vidas que cruzam as ruas diariamente. Observador atento dos passantes, entre eles operários, ambulantes, prostitutas,  presidiários, barões e senhorinhas da sociedade, descreveu com extrema sensibilidade os vários vieses da vida carioca da época a partir daqueles tipos tão diferentes a desfilarem pelas ruas do Rio.

Considerado por muitos o primeiro jornalista brasileiro a trabalhar com reportagem de fôlego, e talvez o primeiro jornalista de ofício, pois até então a profissão era desempenhada como bico por escritores que não conseguiam espaço nas editoras. Apesar de sofrer inúmeros preconceitos (foi recusado pelo Barão de Rio Branco a ingressar Itamaraty por ser “gordo, amulatado e homossexual”). O talento, no entanto, superou o preconceito e chegou a ser membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa.