‘Bossa 60 – passo a compasso’, abre dia 17 de julho, no  Espaço Cultural BNDES

Entre as inúmeras atividades que estão acontecendo ao longo do ano para comemorar os 60 anos da Bossa Nova, a exposição ‘Bossa 60 – passo a compasso’, que o Espaço Cultural BNDES apresenta a partir de 17 de julho, mostra em ambientes sensitivos, a história daquele movimento que levou a música brasileira para o mundo.

Com idealização de Valéria Machado Colela e curadoria do jornalista e crítico musical Tárik de Souza, a mostra traça as mudanças que a bossa nova trouxe na interpretação, ritmo, temáticas e estilo na música brasileira. O projeto expográfico é de Lidia Kosovski; o design é de Ruth Freihof e o desenho de som de Framklim Garrido.

A mostra privilegia a experiência sonora, com ilhas de conteúdo musical distribuídas pelo espaço expositivo. Além da música, o visitante terá contato com a cronologia da bossa, desde seu início até os dias atuais, as letras que mudaram a composição no Brasil; as novas linguagens vocais e a influência do movimento na música em todo o mundo.

A idéia é traçar passo a compasso este roteiro, com riqueza de músicas, e associar o movimento musical com a urbanização do país; a bossa nova como fornecedora de matéria prima cosmopolita, à altura da vanguarda cultural internacional.

‘Bossa 60, passo a compasso’ por Tárik de Souza

‘Quando o brado nada retumbante “Chega de saudade”, da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes, rasgou a cortina do passado da música brasileira através da voz e do violão dissonantes de João Gilberto, em 1958, o Brasil tinha cerca de 62 milhões de habitantes (hoje passa dos 200 milhões), e desde o começo da década a população urbana suplantava a rural.

Tomava o poder estético uma nova geração, de índole universitária, que reprocessava a influência da cultura ianque, em especial o jazz e a american song, exportadas após a Segunda Guerra, junto com o nosso samba primal e o impressionismo erudito europeu.

A refinada mistura resultante gerou um movimento programático que reciclou nossa caligrafia musical. Do coloquial das letras e o intimismo da interpretação confidente à harmonia elaborada, melodias assertivas e uma batida rítmica característica, calcada no tempo fraco, divisória de águas. Contamos a história dessa revolução, em “Bossa 60: passo a compasso”.

A exposição procura, através das músicas e imagens da época, esmiuçar as transformações ocorridas no país, em paralelo (e, em alguns casos, em parceria) com o cinema novo, e com o teatro de vanguarda, além das artes plásticas, literatura e das mudanças sociais e de costumes.

O percurso da mostra – essencialmente conceitual, como o movimento que retrata – é pontuado por tópicos. Como o samba-jazz, etiqueta colada às experiências mais acendradas da fusão dos dois estilos, nascidos no mesmo ano de 1917, nos EUA (“Dixieland Jass Band one step”) e Brasil (“Pelo telefone”). Sejam elas instrumentais ou cantadas, prorrompem o improviso e a dilatação dos limites habituais da execução. Era um procedimento inovador, até então vedado à dicção convencional da música brasileira. Como enuncia o título, o setor bossa política compila temas engajados dos criadores da bossa, afeitos às turbulências sociais do país – de um curto período democrático pós-Estado Novo até desaguar numa nova ditadura, agora militar. Embora soe pleonástico, ante a óbvia ancestralidade africana da nossa música, o segmento dos afrossambas assim foi batizado por um de seus mais assíduos praticantes, o autointitulado “branco mais preto do Brasil”, o poeta Vinicius de Moraes. Da mesma forma como abriu essa dissidência na centralidade da batida da bossa, ele foi também um dos principais artífices da conexão clássica do movimento, aqui apresentada como bossa erudita, aliás, num clássico do setor, aliado ao mesmo eclético parceiro, o violonista virtuose Baden Powell.

Foi também uma peça teatral do múltiplo Vinicius, Orfeu da Conceição, filmada por um cineasta francês, a responsável pela projeção da bossa no exterior, consolidada pela explosão do manifesto “Desafinado” (Tom Jobim / Newton Mendonça), ainda que através de um registro instrumental de jazzistas americanos. Um deles, o saxofonista cool, Stan Getz, participaria, ao lado de João e sua então mulher Astrud Gilberto e Jobim da explosiva gravação “The girl from Ipanema”, que transformaria a bossa num fenômeno pop internacional. Capaz de contagiar da voluptuosa diva do cinema, Brigitte Bardot, ao papa da canção americana, Frank Sinatra.

Irrigada por tantos afluentes, a exposição deságua num amplo delta – bossa sempre nova. Trata-se de um lounge de degustação sonora para onde convergem talentos novos e consagrados do movimento – além de ícones de outras correntes influenciados por ele – numa comunhão no olimpo da alta qualidade estética. Afinal, é disso que se trata: de uma bossa depurada que se renova a cada virada das décadas’

Como diria Drummond, de moderna, a bossa nova se tornou eterna.

Esse é o escopo da mostra: atestar a perenidade desta revolução.’

O QUE: Exposição Bossa 60, passo a compasso

QUANDO: 18 de julho a 6 de setembro

ONDE: Espaço Cultural BNDES  (Av. Chile, 100 / Próximo ao metrô Carioca)

QUANTO: Gratuito

VISITAS GUIADAS:  segunda a sexta às 12h30; Quarta e quinta às 18h15

exceto nos feriados