Livro traz curiosidades sobre os bastidores da crítica de cinema e dá dicas para quem quer se tornar crítico.

Em 1992, o crítico de cinema redigia seus textos na máquina de escrever, e não havia internet para ajudar na pesquisa. Foi nesse cenário que Marcelo Janot iniciou sua carreira, no caderno cultural da Tribuna da Imprensa. Ao longo dos últimos 25 anos, o exercício da crítica mudou junto com os meios de comunicação, e Janot exerceu o ofício em todas as mídias. Formou uma geração de cinéfilos com seus comentários no Telecine Cult por quase uma década; vislumbrou a busca do leitor por crítica de maior credibilidade na internet ao criar o Críticos.com.br; e na mídia impressa viveu os áureos tempos da Revista Programa do Jornal do Brasil, até se tornar um dos Bonequinhos do jornal O Globo.

Sua trajetória é recontada neste livro de uma maneira bastante original: fazendo a crítica das próprias críticas. Os 80 textos são acompanhados de observações sobre normas e estilos predominantes em cada época, curiosidades sobre os bastidores da atividade, além de dicas para quem quer se tornar crítico. Com isso, além de oferecer uma saborosa seleção de críticas, Janot mostra que não é apenas a percepção dos filmes que muda ao longo do tempo, mas o que se escreve sobre eles também.

Leia o prefácio do livro

por Carlos Alberto Mattos (pesquisador e crítico de cinema):

Todo crítico deveria ser, antes de tudo, um crítico de si mesmo. Entretanto, alguns poucos o são. Não muitos logram sair do seu lugar de afirmação e alteridade para incorporar dúvidas e praticar a autocrítica. Isso é especialmente verdade no campo das resenhas de filmes do mercado, quando o crítico é instado a fornecer impressões e análises rápidas, voltadas para um público consumidor de filmes e de opiniões.

Marcelo Janot é um dos raros profissionais desse meio que, com certa frequência, agregam sua subjetividade aos textos que publicam, mesmo que ele ainda hoje resista ao uso da primeira pessoa. Basta ver a maneira despudoradamente apaixonada ou demolidora com que se refere aos filmes situados nos extremos de sua admiração ou repulsa. Mas o que ele nos oferece neste Revisão Crítica é bem mais do que os reflexos de um espectador cintilando no peito do crítico.

Ao debruçar-se sobre sua produção e escolher textos para esta coletânea, Janot fez aquilo que poucos de nós se dão ao trabalho de fazer: a crítica da crítica. Nos pequenos textos novos que acompanham cada resenha ou artigo selecionado, ele examina equívocos e erros de avaliação, relativiza manifestações de entusiasmo que não resistiram ao tempo, recrimina-se pelo uso de referências ou termos politicamente incorretos e chega mesmo ao ponto de admitir que hoje discorda de tudo o que escreveu, por exemplo, sobre “Ponto Final”, de Woody Allen.

As observações se dirigem também às diversas circunstâncias do trabalho crítico, como as relações com o público leitor, com os editores de jornais e com o aparato publicitário da indústria cinematográfica; a controvertida atribuição de cotações; as particularidades da atuação em festivais; os dados de contexto (históricos, políticos, artísticos e mesmo pessoais) que influenciaram a escolha deste ou daquele viés crítico.

A passagem dos suportes impressos para os digitais é outro aspecto que mereceu a atenção de Janot nesse exercício de consciência crítica. Exemplos diversos são citados do maior grau de liberdade, conveniência e aprofundamento que a auto-publicação na internet possibilitou aos críticos que disso souberam tirar partido. Daí este livro, por percorrer tantas searas do ofício, afirmar-se também como um bom manual para o crítico aprendiz. Até porque Janot recorre amiúde a sua experiência como professor de cursos de crítica de cinema para imprimir uma visão explicativa do seu trabalho.

Há também espaço, é claro, para celebrar o prazer de se relacionar com o cinema através do pensamento crítico. Assim como para a confirmação de antigas apreciações e o orgulho por esta ou aquela que se revelaria especialmente precisa ou teria repercussão acima do normal. Nada demais quando se trata de um crítico como Marcelo Janot, cultor de textos claros, comunicativos e cheios de insights reveladores sobre os filmes a que se referem.

Mesmo quando discordo de uma ou outra avaliação desse colega, consigo enxergar o seu ponto e a coerência do seu discurso. É justamente nessa dinâmica de encontros felizes e desencontros compreensíveis que se faz a diversidade fundamental do espírito crítico. Ao expor nesse livro os encontros e desencontros consigo mesmo através do tempo, Janot avança um pouco à frente da maioria de nós.

Sobre MARCELO JANOT

Marcelo Janot é crítico de cinema do jornal O Globo desde 2006 e editor do website Criticos.com.br, além de ministrar regularmente cursos livres de cinema. Formado em jornalismo pela PUC-Rio em 1992, iniciou sua carreira na Tribuna da Imprensa no mesmo ano e foi repórter e crítico de cinema do Jornal do Brasil de 1996 a 2002. Foi presidente, entre 2003 e 2006, da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro. Como membro da FIPRESCI, a federação internacional dos críticos, integrou o júri da crítica em festivais internacionais como Rotterdam, Havana e San Sebastian, entre outros. Colaborou com diversas publicações brasileiras e estrangeiras, como a revista francesa Positif e a edição espanhola da Cahiers Du Cinéma. Na TV, trabalhou por oito anos como crítico e comentarista do canal Telecine Cult. Foi colunista do programa Revista do Cinema Brasileiro (TV Brasil) e apresentador do programa Tela Aberta (TV Bandeirantes). No rádio, foi colunista de cinema da Rádio Sul America Paradiso e roteirista e apresentador do programa Identidade Brasileira, na Globo FM.

REVISÃO CRÍTICA – Marcelo Janot

Ed. Autografia – 256 páginas

Preço: R$39,00

Lançamento: sábado, 24.03, no Centro Cultural Olho da Rua, em Botafogo R. Bambina, 6 – Botafogo,