“Ainda está para nascer um narrador como este”, diz a chamada na contracapa de “Enclausurado”, novo livro de McEwan. E não se trata de um mero trocadilho infame, pois faz sentido: o narrador ainda não nasceu mesmo, é um feto. O que parece ser apenas mais um romance policial, envolvendo uma trama relativamente simples: a mulher e o amante (irmão da vítima) planejam o assassinato do marido.
Mas ganha contornos de humor ao mesmo tempo ácido e divertido com a narrativa do filho da assassina, que ainda está em sua barriga. E não é qualquer narrador. Ele tem um gosto apurado por vinhos Sancerre, gastronomia, discute sobre o mundo e suas mazelas, sobre poesia, sobre música. Em meio a uma discussão existencial consigo mesmo, o feto ouve todo o sinistro planejamento para matar seu pai, um poeta frágil que possui um imóvel valioso.
Trata-se de um daqueles livros de se ler num jorro, numa tarde de chuva de domingo, ou de sol mesmo.
Enclausurado
Ian McEwan
Companhia das Letras
200 páginas
Texto: Jairo Sanguiné
Imagem: Divulgação