Ícone do cinema francês morreu nesta segunda, aos 88 anos
Por Jairo Sanguiné / R3S
Jean-Paul Belmodo era um dos atores franceses mais queridinhos do público nos anos 60 junto com Alain Delon, quando protagonizou uma comédia cheia de aventura no Brasil em 1964. “O Homem do Rio” , produção franco-italiana de Philipe de Broca, teve um sucesso arrebatador, apesar de não ser, digamos assim, em termos de qualidade técnica cinematográfica, nenhuma obra-prima. Mas vale pelo carisma e presença no Brasil de um dos maiores atores dos sessenta, que tal como o 007 de Ian Fleming, com direito a smoking branco também, faz coisas inimagináveis na pele de Adrien, um soldado que vem ao Rio à procura da amada Agnes (Françoise Dorléac ), que fora sequestrada em Paris e enviada para cá.
O filme, inspirado nas já famosas “Aventuras de Tintin”, histórias em quadrinhos de Hergé (Georges Prosper Remi) do início do século XX, arrebatou prêmios e chegou a encantar o cineasta Steve Spielberg, a ponto deste afirmar que “O Homem do Rio” o inspirou para seu filme Caçadores da Arca Perdida.
São impagáveis as aventuras mirabolantes de Belmondo no Rio de Janeiro, passando pela Amazônia e chegando na capital federal ainda em construção. As viagens eram num clássico Chrysler Roadster, 1929 e parece que tempo e distância não era problema para os roteiristas.
Já na chegada ao Rio, ao desembarcar do avião no aeroporto Santos Dumont, nosso herói, desesperado para encontrar Agnes, sai correndo e pega uma espécie de trator de serviço na pista mesmo, sendo perseguido por funcionários e policiais. Invade o restaurante do aeroporto derrubando mesas, pulando escadas. Em seguida anda desnorteado pelo centro da cidade em busca de pistas do paradeiro de namorada, filha de um homem assassinado e por quem é apaixonado. Numa roda de samba de rua encontra um menino engraxate com quem dialoga em francês (idioma também não era problema para os roteiristas) e o acompanha nas andanças por Lapa, Santa Tereza (de bondinho, claro), e Copacabana, onde ele anda pelo parapeito das janelas do Copacabana Palace com a praia ao fundo. Fica pendurado e quase cai…tudo para resgatar a amada, que a esta altura está dopada num dos quartos do hotel. Ao resgatá-la, foge com ela, dopada mesmo, até Ipanema. Só com o banho de mar o efeito da droga na moça desaparece.
Na sequencia, o menino engraxate os leva para seu barraco no morro da Providência onde passam a noite em camas improvisadas pelo menino, interpretado por Ubiracy Oliveira, com dez anos na época e um dos raros brasileiros a trabalhar no filme.
O filme segue com cenas de aventura pela Amazônia (filmadas na Floresta da Tijuca) e em Brasília. O longa de Philippe de Broca chegou a ser criticado pela representação caricatural do Brasil, contribuindo para a imagem exótica que os europeus sempre tiveram do país. Houve até quem acusasse o filme de panfleto publicitário do governo para mostrar o progresso através da construção de Brasília e da faraônica e inacabada Transamazônica.
Birinha, o brasileirinho no Filme
Em entrevista exclusiva à REVISTA 3SINAIS, Ubiracy, hoje Mestre Birinha da Mangueira, 66 anos, disse que participou de uma seleção com cem crianças para ganhar o personagem. O teste de elenco era sambar, e isso eu já fazia na Mangueira desde que me conheço por gente”, diz orgulhoso. Ao saber da morte do ator, Mestre Birinha publicou uma mensagem em suas redes sociais: “Vá com Deus meu irmão”.
Depois do lançamento do filme a produção levou o menino para a França para participar de festivais. “Eu era uma celebridade, todos artistas me reconheciam num coquetel que participei em Paris”, lembra ele, que hoje é percussionista, cantor e compositor.
Em 2015, durante o Festival Varilux de Cinema Francês no Rio, “Birinha” reencontrou o astro francês Belmondo. “Me reconheceu na hora”, conta. Como o filme fez muito sucesso, os franceses que vieram pro festival demonstraram que ainda tem um carinho muito grande pelo meu personagem”, diz emocionado.
Mestre Birinha foi diretor de bateria da escola de samba Estação Primeira de Mangueira por 33 anos, de 1964 a 1977. Também atuou na mesma função na Leão de Nova Iguaçu. Participou da gravação do CD “Tantinho canta Padeirinho da Mangueira” (2009), de Tantinho da Mangueira, como percussionista e como cantor, interpretando as músicas “O remorso me persegue” (Padeirinho) e “Distância” (Padeirinho).
O sambista também comandou a bateria do bloco Maravilhas do Porto, composta por 120 ritmistas. Compôs o samba com o qual o bloco desfilou pela primeira vez em 2013, quando lançou o CD “Conselho de Bambas”, em tributo a seu pai, o Mestre Padeirinho, com as participações de Neguinho da Beija-Flor e Pótoka.
Como percussionista acompanhou artistas como Alcione, Bezerra da Silva, Neguinho da Beija-Flor, Jamelão, Beth Carvalho, com quem foi se apresentar em Nova Iorque (Estados Unidos).