5 de Novembro é o Dia Nacional da Cultura. Como o setor está fazendo para sobreviver às limitações impostas pela pandemia?
Por: Jairo Sanguiné / R3S
Pouca gente sabe, mas hoje (5/11) é o Dia Nacional da Cultura. A data foi estabelecida por lei em 1970 e marca o aniversário de nascimento do jurista, político, escritor e diplomata Rui Barbosa (1849-1923).
Mas é um dia mais para reflexão do que pra comemoração, pois a área cultural é talvez a que menos recebe atenção do poder público, apesar de gerar emprego e ser fonte de renda de mais de 5 milhões de brasileiros, de acordo com pesquisa do IBGE. Os números apontam para o retorno positivo do setor cultural para e economia, pois ele é responsável por cerca de 2,5% do PIB, e as atividades culturais pagam R$ 10,5 milhões de impostos por ano. Mas mesmo assim, a cultura sempre fica para trás nos orçamentos e nos projetos dos governos.
Neste ano, com a pandemia do Corona vírus, a situação deixou o setor cultural em situação insustentável. O impacto foi gigantesco, acabando com praticamente todas as receitas que mantem os projetos culturais, principalmente os que dependem de presença de público. Teatros, cinemas e museus ficaram fechados por meses, grandes eventos como festivais foram cancelados. Mesmo diante de uma situação extrema como essa, o apoio do poder público foi quase nulo. Já mesmo antes da pandemia, por questões ideológicas, o governo federal relegou o setor cultural a planos inferiores em termos de prioridade.
Com tudo isso, os artistas e produtores tiveram que se reinventar, seja com lives, vendas de shows online e até mesmo vaquinhas ou rifas, como a que está fazendo um dos ícones da contracultura brasileira, o ex-mutante Arnaldo Baptista, que está rifando o icônico casaco militar inglês vermelho usado no clipe de “Será que vou virar Bolor?” e na capa do álbum “Singin’ Alone. Segundo ele, a fica acontece “por “necessidade de sobrevivência”.
O teatro Miguel Falabella, por sua vez, um dos mais importantes da Zona Norte do Rio, esteve na iminência de fechar as portas, mas graças a uma campanha nas redes sociais, conseguiu sobreviver e aos poucos vai voltando a apresentar espetáculos com venda de no máximo 108 dos mais de 450 lugares que o teatro dispõe. Dos mais de 450 assentos, somente 108 lugares estarão disponíveis para venda, mantendo o distanciamento seguro. A venda dos ingressos será feita exclusivamente online e o público contará com dispenser de álcool em gel na entrada e em pontos estratégicos do teatro. O uso de máscara dentro do espaço é obrigatório. Vários artistas, como Fábio Porchat, Leandro Rassum, Rodrigo Sant’Anna entre outros, aderiram à campanha gravando vídeos de apoio. O público pode colaborar com a campanha de financiamento coletivo pelo site Benfeitoria, que tem como objetivo cobrir custos de manutenção e atividades da casa. Na plataforma, as contribuições vão de R$ 10 a R$ 3 mil e os doadores ganham recompensas. As doações podem ser feitas pelo link. https://benfeitoria.com/o-teatro-miguel-falabella-nao
Um exemplo de reinvenção neste momento é o espetáculo “Riobaldo”, em que o ator e diretor Gilson de Barros adaptou o texto do clássico Grande Sertão, Veredas, de João Guimarães Rosa, para o teatro. A peça, dirigida por Hamir Haddad, chegou a estrear nos palcos mas as apresentações precisaram ser interrompidas devido à pandemia. A saída que Gilson encontrou foi a realização delives com apresentação do monólogo nos mesmos dias e horários agendados para as sessões da peça no Espaço Cultural Sérgio Porto. “Eu nunca imaginei um teatro virtual, mas é o que estou fazendo nesse tempo de pandemia e é maravilhoso poder oferecer para as pessoas uma peça de teatro em suas casas, no celular ou no computador, e ainda conecta na TV, é um barato, diz o artista.
O Grupo Estação Net de Cinema, que tem 75 funcionários, também esteve a ponto de encerrar as atividades, mas graças a um apelo da diretora do grupo, Adriana Rattes, para que seus frequentadores sugerissem ideias, o Estação sobreviveu, e aos poucos vai voltando às atividades, respeitando todos os protocolos de segurança. Além de exibições de filmes (mostras e estreias), o grupo promove semanalmente lives em seus canais na internet com diretores, atores e produtores.
Trabalhadores autônomos da Cultura
Este cenário de desespero atingiu em cheio também os trabalhadores autônomos da áreal cultural, principalmente os que trabalham na rua e dependem do movimento para arrecadar, e ainda se expõe ao risco de contaminação caso resolvam seguir com a atividade para sobrevier. A situação ficou dramática, gerando muito desemprego principalmente para quem trabalha a chamada cultura periférica, cujos artistas estão mais vulneráveis.
Lei Aldir Blanc
A lei federal Aldir Blanc, criada para regulamentar ações emergenciais ao setor cultural diante do estado de calamidade pública decretado pela União devido à pandemia da Covid-19. Alei foi sancionada em Junho, mas só em novembro os beneficiários começaram a receber o recurso através do Ministério do Turismo. O recurso está sendo pago em cinco parcelas de R$600,00 (duas em novembro e três em dezembro), poderá ser usado para pagamento de renda emergencial mensal aos trabalhadores da cultura. A lei prevê também subsídio mensal para manutenção de espaços artísticos e culturais – entre R$ 3 mil e R$ 10 mil – e iniciativas de fomento cultural, como aquisição de bens e serviços e instrumentos destinados à manutenção de agentes, de espaços, de produções, entre outros. O total de recursos destinados pelo MTur é de R$ 194,2 milhões.