“Será que precisamos pagar, com mais vítimas, o sonambulismo generalizado que separa o que está conectado?”, pergunta o pensador francês de 98 anos.
Por Jairo Sanguiné / R3S
O sociólogo, filósofo e e antropólogo francês Edgar Morin vai fazer 99 anos no dia 8 de julho próximo, e continua espetacularmente lúcido. Em entrevista à revista semanal parisiense L ‘Obs, publicada hoje (https://bit.ly/3biDMm7) manifestou suas opiniões sobre a pandemia do Coronavirus. Para ele, “o confinamento pode nos ajudar a começar uma desintoxicação de nosso modo de vida”, e afirma que “esta crise nos mostra que a globalização se transformou numa interdependência sem solidariedade”.
Ele afirma que esse vírus lança luz hoje, de maneira imediata e trágica, para o que ele chama de comunidade de destino (a consciência dos homens de pertencimento à Terra é que permitirá abrir novos canais de solidariedade, desenvolver novas instituições políticas comuns e uma identidade planetária que exige o comprometimento da sociedade mundial). “Será que vamos finalmente perceber isso? Na ausência de solidariedade internacional e organizações comuns para tomar medidas pandêmicas, estamos testemunhando o fechamento egoísta das nações nelas mesmas”.
Já num artigo para o jornal L’iberation, publicado na edição de 12/3 (https://bit.ly/2UjUmLg) critica o fato da ONU não propor nenhuma grande aliança planetária de todos os Estados. É óbvio que o vírus trouxe uma nova crise plentária na já conhecida crise de humanidade da era da mundialização, mas continuamos a considerar e tratar essa complexidade como problemas separados. Será que precisamos pagar, com mais vítimas, o sonambulismo generalizado que separa o que está conectado?”.
Para ele, o vírus nos revela o que sempre foi ocultado nas mentes formadas nos nossos sistemas educativos, mentes dominantes das elites técnico-econômicas-financeiras: a complexidade de nosso mundo humano na interdependência e intersolidariedade da economia, do social, de tudo o que é humano e planetário. Essa interdependência se manifesta por interações e retroações imensuráveis entre os diversos componentes da sociedade e indivíduos. Desta forma, as perturbações econômicas suscedidas pela epidemia, acabam favorecendo sua propagação. Ou seja, a resposta só pode ser a solidariedade planetária.
EDGAR MORIN – Pesquisador emérito do Centre National de la Recherche Cientifique, Formado em Direito, História e Geografia, estudou Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro. É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos do campo de estudos da complexidade, que inclui perspectivas anglo-saxônicas e latinas.