Uma instalação performativa de Renato Rocha na Casa da Glória
– A partir de uma pesquisa dramatúrgica, que parte de diferentes referências e pensadores, que vai desde uma reflexão de Walter Benjamim sobre o famoso quadro de Paul Klee, o Angelus Novus, onde Benjamin discorre sobre o que ele chama de “Anjo da História”, impelido pelo progresso em direção ao futuro, em que ele vira de costas e olha esse passado em ruínas, com sua boca aberta e os olhos dilatados; os estudos sobre heterotopias de Foucault, esses lugares transitórios, essas “outras topias”, essas construções de lugares possíveis, do novos habitats; a reflexão de Richard Schechner sobre a performance como histórias e memórias soterradas em um monte de escombros; além do poema Jardins de Ericson Pires sobre vida e morte, renascimento e semeadura, e ainda a estética carnavalizada e o espírito libertário do carnaval de rua do Rio de Janeiro, o NAI se lança na construção de um campo afetivo entre seus artistas e os espectadores, criando imagens, sensações e dispositivos que provoquem e afirmem, que mesmo em tempos de censura, de destruição e obscurantismo, nós insistimos em criar uma pulsão de vida, beleza e poesia, inventar memórias e habitats -, declara o diretor Renato Rocha. – Desses edifícios da modernidade em desmoronamento, que são na verdade nossos próprios corpos, identidades, direitos, ofícios e desejos atacados hoje por forças opressoras, criaremos novos lugares possíveis, re-existindo, se reinventando e dando voz ao amor, a alegria e a esperança. Como refletir sobre essa sociedade em escombros sobre a qual vivemos hoje, o sujeito contemporâneo e seu corpo como esses edifícios em constante erosão, arruinamento e desmoronamento, a nova vida que ressurge após a destruição? O que seria caminhar sobre os escombros e construir um mundo possível para um novo futuro? Como criar, atravessamentos capazes de traduzir essas questões numa obra aberta e multidisciplinar? Dessa forma será proposto aos espectadores que eles sejam provocadores de sua própria experiência, a partir de como eles escolhem percorrer os cômodos da Casa da Glória, quanto tempo irão dedicar a cada performance/instalação e o quanto vão decidir se envolver nos acontecimentos que irão transformar o espaço durante a obra -, conclui o diretor.