Eduardo Wotzik já realizou 40 peças teatrais e conquistou muitos prêmios. Moliere, com O Pássaro Azul, de Maeterlinck; o Mambembe, com A Geração Trianon; o MINC de Contribuição ao Teatro, com Bonitinha Mas Ordinária; o prêmio IBEU de direção, com Um Equilíbrio Delicado, de Edward Albee. Além dos prêmios para montagem: Eletrobras,  com “Édipo Rei”, de Sófocles; prêmio Funarte com “Bonitinha, mas Ordinária”; o prêmio FATE, da Secretaria Municipal de Cultura, com Emily;  o prêmio Eletrobras com a monta gem de “Estilhaços”. O autor superou todas as expectativas quando convidou o público para assistir a uma peça com 24 horas de duração. O público assistia uma parte, saía e voltava depois, e os atores continuavam lá, em cena, durante um dia inteiro. Foi um sucesso. O carioca de Ipanema Eduardo Wotzikcomeçou a carreira no Grupo Tapa, que ainda tinha sede no Rio de Janeiro, e conquistou a crítica e o grande público com o aclamado espetáculo “Um Equilíbrio Delicado” (ano 2000), quando reuniu em cena nomes como Walmor Chagas, Tonia Carrero, Itala Nandi, Camilla Amado e Clarice Niskier. “Troia” e “Sonata Kreutzer” foram outros espetáculos de grande repercussão.

1 . REVISTA 3SINAIS – Fale sobre sua relação com a obra de Clarice Lispector. De herege a fiel.

EDUARDO WOTZIK – Quando eu érea pequeno achava ela uma chata, pesada, desesperada demais, sem humor. Mas… a medida que a vida foi avançando e a realidade do mundo e a natureza do homem foram se revelando para mim comecei a descobrir Clarice e buscar entender sua genialidade, sua pluralidade transcendente, sua extraordinária capacidade poética. Hoje eu concordo com Benjamin Moser “Clarice não é literatura, é bruxaria.” E poder estar em cena professando suas palavras tem sido um presente, um momento de grande prazer, sem dúvida um dos mais belos e comoventes e constantes diálogos da minha carreira. Clarice é um estudo de uma vida. Um tema cênico de cabeceira, que me faz companhia. Poço sem fundo, mergulho no escuro, me renova e recicla continuamente.

2. R3S – Depois de 300 apresentações, passando por várias conjunturas, como o espetáculo se insere no atual momento brasileiro?

WOTIZK – Missa Para Clarice é mais que uma missa, é uma missão. E se insere no departamento de milagres do teatro brasileiro.

3. R3S – Como foi a concepção da peça, que une arte e religião a partir dos textos de Clarice?

WOTZIC – “Missa Para Clarice” é a celebração do “Sim”. Um projeto que nasce do “impulso e da necessidade”. Puro afeto. Pelo Teatro, pela Clarice, por mim, pela investigação, pelo gosto bom. Nasce da necessidade de se reinventar a profissão. De gritar pro mundo. O grito do Munch. De sobreviver “apesar de”. De uma “angústia que insatisfeita & e acute; a criadora de nossa própria obra”. “Missa para Clarice – Um espetáculo sobre o homem e seu Deus” vem construído assim, com artistas artesãos, dando-se as mãos. Desde 2016 estamos formando uma teia de salvação entre os que acreditam que “a salvação é pelo risco”.  Faz tempo tenho usado o teatro para tentar responde a pergunta, qual o sentido da vida? E ele tem vem me respondendo; compartilhar a dúvida. Esse é o teatro. Um espaço que me permite estabelecer um silencioso dialogo entre a arte e a religião n u m mesmo espetáculo e ainda revelar uma terceira coisa que eu ainda não sei qual é. Um beijo a todos, espero vocês lá no teatro.