Diretor está com a peça “Rio 2065”, que celebra os 20 anos da Cia Dezequilibrados

Por Jairo Sanguiné, com Assessoria

 

Formado em Teoria do Teatro, pela Uni-Rio,  Ivan Sugahara é diretor da Cia Dezequilibrados, que está em cartaz no CCBB com a peça “Rio 2065”, um retrato fictício do Rio em 2065, com a linguagem irreverente e bem-humorada que marcou os 20 anos da Cia, comemorados exatamente com este espetáculo. Além de diretor teatral e dramaturgo, ele é responsável pela trilha sonora de diversos de suas mais de 50 peças ao longo de duas décadas. Recebeu o Prêmio Cesgranrio de Melhor Espetáculo por “Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir” (2014), de Tennessee Williams, e os Prêmios Qualidade Brasil de Melhor Diretor e Espetáculo por “Notícias Cariocas” (2004), montagem da Cia. dos Atores que co-dirigiu com Enrique Diaz. Foi três vezes indicado ao Prêmio Shell de Melhor Direção e recebeu três indicações aos Prêmios Qualidade Brasil de Melhor Diretor e Melhor Espetáculo. Dirigiu a cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em sete edições. Atualmente, está em cartaz com o espetáculo “Vala Comum”, do Impulso Coletivo. Durante quatro anos e meio, foi responsável pela administração, direção artística e curadoria da SEDE DAS CIAS, em parceria com a Nevaxca Produções e a Cia. dos Atores. A ocupação foi indicada ao Prêmio Shell na Categoria Inovação “pela dinamização do espaço com uma proposta inovadora de ocupação”, ao Prêmio Cesgranrio na Categoria Especial “pela manutenção da Sede das Cias” e ao Prêmio APTR na Categoria Especial “pela curadoria”.

A Revista 3SINAIS fez três perguntas para ele. Confira:

REVISTA 3SINAIS – Que balanço você faz desses 20 anos de trabalho dos Dezequilibrados? Qual o segredo para fazer um espetáculo por ano nessas duas décadas?

IVAN SUGAHARA –  A trajetória da companhia se confunde com as vidas de todos nós que a integramos. São 20 anos trabalhando juntos, 20 espetáculos, é muita coisa. Já passamos por tudo, já brigamos muito, nos amamos muito, já casamos entre nós e separamos, o Saulo tem um filho com a Ângela, muita água já rolou. Mas acho que construímos uma história bem bonita, estarmos juntos até hoje é algo precioso. A maioria dos grupos que se mantém durante muito tempo tem grandes mudanças na sua composição. Na maioria dos casos, só o diretor mais um ou dois atores se mantêm. O nosso grupo tem a mesma formação há 17 anos. Somos seis, eu e 5 atores (Ângela Câmara, Cristina Flores, Letícia Isnard, Saulo Rodrigues e José Karini). A Cristina e a Ângela trabalham comigo desde o início. O Karini entrou no ano seguinte. Em 2001 entraram o Saulo e a Letícia e nunca mais entrou nem saiu ninguém. Viramos uma grande família, são meus maiores parceiros de trabalho e meus melhores amigos. O segredo da longevidade é justamente esse laço afetivo que é muito forte. A vantagem do trabalho em companhia é a construção de uma linguagem de trabalho. Quando vamos fazer uma peça nova, não partimos do zero. De modo que é possível nos aprofundarmos no processo, uma vez que o trabalho em cada espetáculo dá continuidade ao anterior.

“O segredo da longevidade é justamente esse laço afetivo que é muito forte. A vantagem do trabalho em companhia é a construção de uma linguagem de trabalho.”

R3S – A peça Rio 2065 é um misto de comédia com ficção científica…qual a maior sensação que a peça tem causado no público: vontade de rir ou de pensar sobre o mundo em que vivemos e o que deixaremos para as futuras gerações?

IVAN – Antes de tudo, a peça é uma comédia. Contudo, trata-se de uma comédia que segue a tradição antropofágica de se apropriar de linguagens artísticas diversas e abrasileirá-las. O texto mistura ficção científica, sátira política, filme noir e grand-guignol. Na encenação, procurei colocar em cena esse caldeirão de referências divertido, criando uma poética que remete às chanchadas e ao movimento tropicalista. Foi uma construção cênica bastante trabalhosa e complexa, mas extremamente gratificante e rica. Há um intenso uso de luz, música, sonoplastia, vídeo, além de inúmeras mudanças de cenário e trocas de figurino. Muita coisa acontece em cena, em consonância com a nova realidade de excessos que temos diante de nós. O público pode esperar se divertir muito, é  um espetáculo bem engraçado. Mas trata-se de um riso crítico sobre um futuro absurdo que pode ser muitas coisas, mas que, fundamentalmente, segue carregando o peso do passado.

“Um futuro onde coabitam traços de diferentes momentos da história da nossa cidade, da época colonial, da Belle Époque, dos dias de hoje e de 2065. Um Rio de Janeiro teatral que aponta tanto para o futuro quanto para o passado”.

R3S – O que o Rio (ou o Brasil) de 2019 tem a ver com o longínquo Rio (ou o Brasil) 2065?

Bastante. A montagem coloca em cena um retrato fictício do Rio de Janeiro em 2065. Buscamos aliar a crônica do nosso tempo com todas as possibilidades poéticas e críticas que surgem quando refletimos sobre o futuro. Trata-se, todavia, de uma ficção científica que fracassa porque aqui as formas do passado não se apagam facilmente. Porque a nossa cultura frequentemente resiste às invenções tecnológicas, às convenções e exigências de cada época. A sensação de estarmos à frente, atrás, ou em descompasso com o resto do mundo é, assim, uma das atmosferas da peça. Estamos no tempo cotidiano de uma cidade praieira, construída sobre a beleza e criatividade cultural dos seus habitantes, que subverte as pressões de futuros utópicos – tão recorrente nas narrativas de ficção científica. Um futuro onde coabitam traços de diferentes momentos da história da nossa cidade, da época colonial, da Belle Époque, dos dias de hoje e de 2065. Um Rio de Janeiro teatral que aponta tanto para o futuro quanto para o passado.