Montagem, que une contos de Machado de Assis e Guimarães Rosa, foi indicada ao prêmio APCA de melhor ator

Conduzido pelo ator Ney Piacentini, o solo Espelhos teatraliza os contos O Espelho, de Machado de Assis (integrante do livro “Papéis Avulsos”, publicado pela primeira vez em 1882); e o de mesmo nome O Espelho, de Guimarães Rosa (publicado em 1962, integrando seu livro “Primeiras Estórias”). A montagem é o resultado de pesquisas e experimentações cênicas, realizadas ao longo dos anos de 2015 e 2016, e apresenta na íntegra os dois textos, compondo um único trabalho teatral que investiga a formação da identidade do sujeito brasileiro, através da relação entre a literatura e o teatro. Dois anos depois de sua estreia em São Paulo, onde realizou sete temporadas, a peça estreou na última quinta-feira (03/01), no Teatro Poeirinha, em Botafogo. Por Espelhos, Ney Piacentini foi indicado ao Prêmio APCA de Melhor Ator. A montagem conquistou relevantes críticas de reconhecimento à importância do trabalho.

 

Na primeira parte de Espelhos, Piacentini investe-se de Jacobina, personagem de Machado de Assis que conta a amigos uma misteriosa passagem de sua juventude na qual enfrentou a solidão. Em seguida, o ator assume a figura criada por Guimarães Rosa que parte em busca de sua essência. A obra propõe uma interface entre a aguda percepção crítica de Machado e a poética que Rosa nos oferece com sua inquieta criatura.

 

Ao longo de 60 minutos, o solo propõe uma reflexão sobre as relações entre sociedade, imagem e subjetividade, por meio do pensamento de duas matrizes da cultura brasileira. Ney Piacentini afirma que a peça se volta para o Brasil colocando em cena uma literatura de qualidade inquestionável. “Em minhas leituras da obra machadiana encontrei em ‘O Espelho’ uma escrita com potenciais cênicos. Fui seduzido pela construção do texto, carregado de elementos sobre a constituição da individualidade nacional, muito vulnerável às influências externas. E dos estudos sobre este que é um dos principais contos de Machado, deparamo-nos com o que, para alguns pesquisadores, é uma resposta de Guimarães Rosa ao escritor carioca: um conto de mesmo nome, porém com uma abordagem e estilo absolutamente próprios. As duas pequenas obras-primas se alinham em uma só encenação, se complementam por oposição.”, afirma.

 

Por não se tratarem de textos dramatúrgicos propriamente ditos, o empenho maior da montagem foi sublinhar o caráter narrativo dos contos e permitir que a força literária de cada um encontrasse seu equivalente em teatralidade. A encenação oferece ao espectador a oportunidade de entrar em contato com a lucidez e a sutileza das palavras de dois dos maiores intérpretes da cultura brasileira, tanto do ponto de vista estético quanto histórico. “Da mesma forma com que as palavras de Machado de Assis e Guimarães Rosa nos transformaram ao longo do processo de preparação de Espelhos, estamos reparando que também os espectadores estão sendo tocados pela sensibilidade desses dois grandes autores e suas obras singulares”, finaliza Ney Piacentini.

 

Ficha técnica
Textos: contos de Machado de Assis e Guimarães Rosa
Com: Ney Piacentini
Iluminação e Cenografia: Marisa Bentivegna
Figurinos: Fábio Namatame
Trilha sonora: Miguel Caldas
Preparação vocal: Mônica Montenegro
Programação visual: Paulo Fávari
Fotografias: João Maria Silva Jr.
Adaptação da luz: Paulo Barcellos

 

Espelhos | Solo com Ney Piacentini
De 03/01 a 24/02
Qui a sáb, 21h | domingos, 19h
Ingressos: R$ 50 e R$ 25
Teatro Poeirinha | Rua São João Batista, 104 – Botafogo

Foto: João Maria Silva Jr.