Amadrinhada pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a “mãe” de todas as festas literárias do Brasil, desde 2012 a Festa Literária das Periferias (Flup) vem sendo um importante espaço de formação de novos leitores e autores de espaços marginalizados das grandes cidades brasileiras, com edição este ano realizada hoje (31), no Vidigal, a partir das 18h30.
Em 2017, a Flup propõe um diálogo com revoluções, homenageando o centenário da Revolução Russa e o cinquentenário de Maio de 1968 que se aproxima, a fim de discutir as faces elitistas da cultura e educação brasileiras. Trás conversas importantes às mesas e exibe produções de escritores sem reconhecimento, não devido à sua qualidade, mas sim às suas (falta de) condições sociais. “A Flup é onde hoje aparecem novas manifestações literárias produzidas por pessoas negras marginalizadas”, segundo o antropólogo Athayde Motta, importante atuante na luta contra o racismo e, hoje, mediador da mesa “A África que Trago Comigo”. Além de abrir espaços para mostras de poesias, laboratórios e construção de novas narrativas.
Desde o Morro dos Prazeres, local da primeira edição que homenageou o escritor carioca Lima Barreto, tal como a Flip deste ano o faz, até hoje, o espaço criado pela Flup é mais que um evento, tornou-se um processo em busca de construção e visibilidade às produções literárias periféricas. Iniciado em maio, com uma sequência de encontros visando a construção de uma coletânea de poemas e uma de narrativas curtas, que vai até setembro; com a própria festa de hoje; com a III Gincana Literária entre agosto e novembro, preparada pela FLUP Parque em escolas da rede municipal de ensino; vai até novembro, com a culminância desses projetos em um evento de seis dias no Vidigal.
Confira a programação:
18h30 – Abertura solene
19h – Mesa “A África Que Trago Comigo”
Mediada pelo importante antropólogo com atuação na luta contra o racismo, Athayde Motta (Brasil). Com a participação de:
– José Eduardo Agualusa (Angola), um dos membros da União dos Escritores Angolanos, é vencedor dos prêmios Independent Foreign Fiction Awards, por “O vendedor de passados” e do International Dublin Literary Award, por “A teoria geral do esquecimento”, e atualmente colunista do Jornal O Globo;
– Luaty Beirão (Angola), atualmente é rapper e um dos nomes mais conhecidos no atual ativismo político angolano, foi um dos percussores do “movimento Revu”, movimento cívico de luta pela democracia e liberdade. Detido por estar lendo uma adaptação do livro “Da ditadura à democracia”, de Gene Sharp, origem de um diário escrito durante o cárcere, um testemunho único da resistência em pleno século XXI;
– Scholastique Mukasonga (Ruanda), uma das vozes africanas mais premiadas da atualidade, tornou-se escritora devido a sua necessidade, como ela afirma, de contar as histórias de sofrimento e luta de sua região natal, oriundas de conflitos étnicos.
20h30 – Mesa “Variações sobre um velho tema”
Mediada pelo antropólogo Julio de Tavares (Brasil) com a participação de:
– Joana Gorjão Henriques (Portugal), escritora e jornalista, escreve sobre cultura e direitos humanos e dedica-se a investigar o racismo como prática e herança nas antigas colônias africanas de Portugal, como no livro “Racismo em português: o lado esquecido do colonialismo” (Tinta-da-China), uma coletânea de cinco longas reportagens que questiona até que ponto o racismo afeta ainda hoje as relações sociais, políticas e econômicas nos países colonizados por Portugal;
– Paul Beatty (Estados Unidos), uma das grandes novas vozes da ficção norte-americana, vencedor da edição 2016 do Man Booker Prize, trata de questões importantes da atualidade com um humor corrosivo e demolidor. Chega ao Brasil com seu novo livro, “O Vendido” (Todavia), uma sátira irônica e mordaz sobre questões raciais presentes nos Estados Unidos, também sentidas no Brasil de hoje.
22h – Sarau FLIP:FLUP
Nada menos que um microfone aberto para os poetas.
As duas mesas terão traduções simultâneas.
Flip:Flup – O Encontro das Festas Literárias
Quando: 31.07, 18h30
Onde: Grupo Nós do Morro – Rua Dr. Olinto de Magalhães 54 -Vidigal- Rio de Janeiro
Quanto: Gratuito