Espetáculo da Adorável Companhia remonta clássico de William Shakespeare colocando em cena um ator preto para discutir estereótipos e preconceitos.
Por Assessoria / R3S
Contar a conhecida tragédia de Shakespeare sob a perspectiva de um ator que provavelmente não seria escalado para protagonizar uma montagem clássica de “Romeu e Julieta”. Esse é o mote do espetáculo “EU, ROMEU”, que estreou no dia 29 de março com temporada até 8 de abril através da plataforma Zoom, com recursos do Governo Federal, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc. O solo apresenta uma dramaturgia autoral e contemporânea e é protagonizado pelo ator Marcos Camelo, que também assume o roteiro e o figurino do espetáculo. A direção artística é assinada por Cecília Viegas, que destaca que esta é uma história narrada por um homem preto.
“O argumento surgiu justamente pelo espanto que me causava toda vez que Marcos, que também é meu marido, me contava tudo que ele já passou ao longo da vida em função da cor de sua pele. Situações que eu, branca, jamais imaginei passar. Foi assim que percebemos a importância de contar esta história”, ressalta a diretora, que ainda comenta que seu olhar feminino para contar a história de Romeu, narrada por um homem, é uma forma também de destacar a personagem Julieta, grande amor do protagonista.
O solo narrativo mistura música, teatro e circo e, para dar conta de tudo isso, o ator foi treinado de maneira sistemática pela direção. Assim, equilíbrios, rolamentos e o manuseio de um cilindro de ferro passaram a fazer parte da rotina deste novo Romeu que está em cena discutindo estereótipos e, sobretudo, preconceito.
“Como a aparência e o local de origem podem determinar até onde uma pessoa vai crescer na vida, fechando portas e mantendo este indivíduo no mesmo lugar? A primeira importância de ‘Eu, Romeu’, pra mim, é pensar em Rocha Miranda, bairro onde nasci e fui criado, que continua sem nenhum espaço voltado pra cultura, assim como outros bairros do subúrbio que seguem assim, em completo abandono. A peça me mostra que um povo sem acesso à cultura é um povo que tem roubado os seus direitos e sua capacidade de sonhar”, afirma Marcos.
“Outro ponto é que o espetáculo se propõe a debater esse preconceito estrutural em que as mulheres são oprimidas pela sociedade só por serem mulheres, e onde os gays, pretos e a população mais pobre sofrem preconceito dentro de uma sociedade desigual, que cria um abismo social que precisa ser revisto, repensado e discutido”, conclui.
SINOPSE:
A tragédia de Shakespeare se mistura à recorrente tragédia dos subúrbios do Rio de Janeiro, onde o CEP de um indivíduo determina os acontecimentos de sua vida, até onde este pode ir e o tamanho de suas conquistas. Este novo Romeu sintetiza no seu corpo a dicotomia de ter a cabeça em Verona, dividida entre Montéquios e Capuletos, e os pés em Rocha Miranda, bairro localizado entre o Morro do Jorge Turco e o Morro do Faz Quem Quer, trazendo a história de heróis perdedores, daqueles que fazem o que podem com o que são e que, com honra, dignidade e bom humor ousam sonhar, lutar e quase sempre perder. Quase!
SERVIÇO:
Temporada: 29 de março a 08 de abril
Onde: Zoom
Horário: 19h
Ingressos Gratuitos
Link para acesso: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfakMWkVOHHC2cWz5xwiGrdep4HM41Ovh_szGCq1noy0ICKzw/viewform?gxids=7628
Classificação Indicativa: 14 anos
Gênero: Solo Narrativo
Duração: 50 minutos
FICHA TÉCNICA:
Elenco, Roteiro e Figurino: Marcos Camelo
Direção Artística, Argumento e Pesquisa de aparelho circense: Cecília Viegas
Iluminação: Júlio Coelho
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê – Gisele Machado & Bruno Morais
SOBRE A ADORÁVEL COMPANHIA:
Formada pela bailarina e acrobata Cecília Viegas e pelo ator e palhaço Marcos Camelo, a companhia foi criada para satisfazer o desejo de uma autonomia artística e por uma cena mais autoral, multidisciplinar numa linguagem popular e, ao mesmo tempo sofisticada, usando o circo, o teatro e a dança. A sede da companhia é em Guapimirim, na Baixada Fluminense, onde foi montado o primeiro espetáculo do grupo, o infantil “Nosso Grande Espetáculo”, em 2017, que depois foi encenado no Paraná, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O espetáculo foi selecionado no edital Primeiros Olhares, dos Doutores da Alegria (SP), para apresentações em hospitais públicos. Em março de 2020, a companhia estreou o espetáculo adulto solo narrativo “Eu, Romeu” em Goiânia.