Em entrevista exclusiva à REVISTA 3SINAIS, de Paris onde mora, a cantora, compositora e violoncelista virtuose fala sobre o álbum lançado nesta sexta, 26.

Por Jairo Sanguiné / R3S

“O tempo é inimigo de quem vive a esperar”

Ela tem a voz doce – canta quase em sussurro –  e toca um violoncelo que parece fazer parte do seu corpo, tamanha a intimidade entre ambos. A jovem Dom La Nena, de 31 anos, nascida em Porto Alegre e residente na França, conquistou a crítica mundial muito cedo, aos 23 anos, já no álbum de estreia “Ela”, de 2013.  O disco foi lançado simultaneamente com videoclipes das canções dirigidos pelo marido, o diretor Jermiah, e gravados em Super8, numa sintonia sonora e estética impecável. Sons, imagens e palavras num diálogo perfeito. Depois vieram os EPs “Ela por Eles”,  “Golondrina”e “Cantando” e os álbuns Birds on a Wire (2014), projeto em parceria com Rosemary Standley (franco-americana) em que as duas artistas fazem uma releitura de sucessos de gente do naipe de Gilberto Gil, Violeta Parra, Léonard Cohem, entre outros, e  “Soyo” (2015).

Capa do álbum Tempo, lançado em 26 de fevereiro.

Agora ela acaba de lançar o terceiro álbum, “Tempo” (no Brasil apenas pelos aplicativos de música) em que faz uma espécie “viagem temporal”  por canções absolutamente autorais, quase autobiográficas,  que retratam de alguma forma o tempo que se reflete nos sentimentos e sensações de suas andanças e mudanças geográficas. Dom La Nena nasceu no Brasil e passou a adolescência na Argentina estudando com a violoncelista clássica americana Christine Walevska, conhecida como “deusa do violoncelo”.  Mas é na França que “La Petite”, como também é conhecida Dom La Nena, reside e onde faz enorme sucesso com suas canções suaves, melancólicas e que traduzem um pouco de sua vivência nesses três países. As três línguas – português, francês e espanhol – fazem parte não apenas da rotina e história de vida dela, mas são a própria essência da sua concepção artística. “Cada língua tem uma sonoridade particular, então, a melodia que crio pede uma certa sonoridade própria do espanhol, português ou francês. A língua pra mim é como um instrumento musical”.

Em uma das faixas  ela canta “Quién Podrá Saberlo”  ao lado da mexicana Julieta Venegas, vencedora do Grammy e de cinco Grammy Latino. “Foi uma honra cantar com Julieta. Ficamos amigas depois que ela assistiu um show meu em Buenos Aires e em seguida surgiu a ideia dessa parceria. Fiz a música já pensando em cantar com ela, foi lindo!”, conta a chanteuse brèsilienne.   A música ganhou um videoclipe, também dirigido por Jeremiah, rodado em Buenos Aires e Paris. Assista:

“Tempo” foi produzido e mixado por Noah Georgeson (Devendra Banhart, The Strokes, Rodrigo Amarante) e já ganhou os olhos e ouvidos da mídia internacional pelos mesmos motivos que os álbuns anteriores chamaram atenção da crítica: a inovação sonora de suas canções, cantadas nos três idiomas e que suavemente enchem os ouvintes de uma gostosa nostalgia. Os instrumentos usados na gravação de “Tempo? Quase que exclusivamente o violoncelo tocado por ela. Se você ouvir som de piano ou percussão ao longo do disco, não se engane, é o celo de Dom La Nena superando seus limites sonoros.

O fio condutor de “Tempo”, como o próprio título sugere, é o tempo no sentido da reflexão sobre gravidez, nascimento, vida envelhecimento, morte. “É sobre o nosso passado, como se perguntássemos, o que fazemos com tudo o que vivemos? O que fazemos com frustrações?”, explica Dom La Nena. Na canção “Esperando Alma” ela utilizou uma gravação do coração da filha batendo ainda em seu útero. É o som do renascimento que pulsa e batuca no arranjo musical. “O tempo na música é respiração, é o que deixa a música harmoniosa”, acrescenta. É por isso que cada canção de “Tempo”, soa harmoniosa ao coração. E ela sentencia na música “Moreno”: O tempo é inimigo de quem vive a esperar”.