Publicação inédita, a primeira sobre o tema no Brasil, aborda a a arte realizada no único campo de concentração cultural durante o nazismo
Por Assessoria / R3S
Com 224 páginas, o livro “Arte em Tempos de Intolerância: Theresienstadt” (Editora Rio Books), da historiadora Silvia Rosa Nossek Lerner, já nas livrarias desde 29 de janeiro, é a primeira publicação em português sobre o tema, e faz uma análise do campo de concentração da cidade de Terezin (que passou a se chamar “Theresienstadt” após a ocupação dos nazistas), na antiga Tchecolosváquia, através da obra cultural produzida pelos judeus levados a esse campo. Todas as manifestações culturais têm espaço no livro: música, teatro, poesias, jornais, revistas e publicações, mas os desenhos, feitos tanto pelos adultos quanto pelas crianças, ganham um destaque especial.
“Por meio da arte, é possível recompor um pouco da História antes do Holocausto, entender o momento histórico, bem como conhecer lugares e acomodações onde ficaram aprisionados, seu dia a dia, as condições de vida, as emoções diante das saudades e da incerteza do futuro, a morte permeando a vida e seus significados humano e emocional”, diz a autora Silvia Lerner, que visitou a cidade de Terezin e realizou uma longa pesquisa, durante três anos, para escrever o livro.
Criado como um campo modelo e cultural para receber a visita do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e persuadir o mundo de que os judeus sob domínio nazista não eram maltratados, o campo de Theresienstadt recebeu escritores, políticos, músicos, cantores, artistas, professores, intelectuais e designers, que deixaram um rico material cultural, dentre desenhos, músicas, peças de teatro, poesias e publicações, que nos fazem entender um pouco da história e da vida no campo de concentração.
Ao longo de cinco capítulos, com uma linguagem envolvente, a autora vai contextualizando o período historicamente e enumerando as diversas manifestações culturais realizadas no local, com imagens dos trabalhos e de documentos de época, assim como nomes que se sobressaíram e seus legados.
DESENHOS DAS CRIANÇAS
Os desenhos eram feitos em antigos formulários, onde as crianças eram orientadas a colocar seu nome e sua data de nascimento. Mais tarde, à direita dos desenhos, foi inserida a data em que a autora foi enviada para extermínio em Auschwitz. “O material que sobreviveu, apesar de a maioria das crianças não ter sobrevivido, serve como testemunha silenciosa da riqueza interior de seus criadores em face de seu trágico destino. Mesmo sete décadas depois de realizados, ainda mantém o dramatismo da época e a tragédia que os determinou”, ressalta a autora.
Ao longo do livro, Silvia Lerner destaca e analisa alguns desses desenhos, que são lúdicos e coloridos, retratam flores, borboletas e casas. Entre eles, há um com a imagem de uma casa distante, com um longo e confuso caminho para se chegar até ela. Em outro, a figura de um homem com bigode se mistura a figura de uma casa.
Aluna de Bauhaus, em Weimar, onde seguiu cursos, entre outros, com Paul Klee, a artista Friedl Dicker-Brandeis (1898-1944) foi a professora de desenho das crianças. “Brandeis percebeu que elas necessitavam de uma forma de expressão artística como meio de sobreviver ao caos em que suas vidas se encontravam – trata-se da resistência por meio da arte”, conta Silvia Lerner. A professora também foi a responsável pela preservação dos desenhos, reunindo, em duas malas, mais de cinco mil trabalhos feitos pelas crianças, antes de ser deportada para Auschwitz, junto com a maioria delas, em outubro de 1944. “As malas, que foram poupadas pelos nazistas, ficaram encostadas em uma prateleira, pegando poeira por dez anos. Em 1955, foram abertas e descoberto seu conteúdo”, conta Silvia Lerner.
Ao analisar os desenhos, percebe-se que os das crianças são diferentes dos adultos. “Os dos adultos retratavam a vida no gueto, ao passo que os das crianças nos contam sobre seus pensamentos, sofrimentos, medos, sonhos e esperanças, a vida que deixaram para trás, brincadeiras, famílias e amigos que nunca mais encontraram”, afirma a autora Silvia Lerner.
DESENHOS DOS ADULTOS
O ateliê de desenho de Theresienstadt era dirigido pelo artista Bedrich Fritta (1906-1944), gráfico e caricaturista de Praga, que conseguiu salvar duzentos desenhos, criados por ele e por outros artistas, enterrando-os no solo dentro de um cofre de ferro, que foi descoberto após a guerra. “Os desenhos causaram consternação e dor porque narravam a verdade que os nazistas escondiam: filas de deportados fustigados pela chuva, pelo frio, pela neve; crianças com olhar aflito; músicos que fingiam tocar, com rostos sem expressão, como que aguardando a morte. Vê-se, mais uma vez, que a arte ali produzida era a expressão do que os afligia”, afirma a autora em um dos trechos do livro.
“Estudar essa produção artística é entender o desenho como espelho da memória, em que se coloria em preto e branco, desenhava-se o indecifrável, narrava-se o inenarrável, sem uma linguagem definida para transmitir o inimaginável”.
SOBRE A AUTORA
Silvia Rosa Nossek Lerner é brasileira, filha de pais sobreviventes do Holocausto. Professora especializada em estudos sobre o Holocausto, com graduação em Direito, História e Pedagogia, Pós-graduada em História do Século XX e metrado em Psicanálise, Sociedade e Cultura. Tem vários artigos publicados e é autora dos livros “Liberdade de escolher como morrer: Resistência armada de judeus no Holocausto” (Imprimatur, 2015) e “A música como memória de um drama: o Holocausto (Garamond, 2017).
Serviço: Livro “Arte em Tempos de Intolerância” (Rio Books), de Silvia Lerner
Preço: R$79
224 páginas
Formato: 23cmX23cm
Venda on-line com preço promocional de R$69: www.riobooks.com.br