Sambista acaba de lançar álbum inédito em formato digital

Por: Jairo Sanguiné

Hoje é dia de comemorar o aniversário de um grande nome da música brasileira: Paulo César Batista de Faria, mas que todos conhecem como Paulinho da Viola. Aliás o nome artístico, dado a ele por Zé Keti e Sérgio Cabral, é bastante apropriado, pois nasceu e vive entre grandes músicos, de Pixinguinha e Jacob do Bandolim. “A racionalidade de sua música contém uma musicalidade do pensamento, a recorrência de motivos que atormentam o gênero humano – e, como a mera incidência no repertório de um cantor popular deveria indicar, não há sinal de que serão apaziguados tão cedo”, diz o pesquisador  Luiz Costa Pereira Júnior, em sua tese de doutorado pela USP intitulada Sintonias filosóficas em Paulinho da Viola.

Aos 78 anos, tem um vigor invejável e muita vontade de fazer música. E é o que acaba de fazer, lançando recentemente um álbum de inéditas, mas que pela primeira vez não terá versão física, apenas em streaming…coisas da modernidade a que Paulinho se adaptou muito bem. O álbum, intitulado Sempre se pode sonhar (Sony Music), foi lançado no final de outubro e mais uma vez conta com a arte da capa produzida pelo artista visuao que o acompanha em praticamente toda carreira, Elifas Andreato.

Em 56 anos de carreira, Paulinho lançou verdadeiras obras-primas da música brasileira, o que acabou rendendo várias teses acadêmicas, um documentário “Meu tempo é hoje”, lançado em 2002 pela VideoFilmes, com direção de Isabel Jaguaribe e roteiro de Zuenir Ventura, que apresenta suas canções e memórias do artista.

Paulinho também ganhou um livro, intitulado Velhas histórias, memórias futuras – O sentido da tradição em Paulinho da Viola, de Eduardo Granja Coutinho (Editora Uerj).

Selecionamos aqui cinco discos para conhecer a fundo o carismático artista carioca:

 

FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA (1970)

O segundo álbum de Paulinho da Viola foi um dos destaques de 1970, A faixa-título foi uma homenagem à Portela, em resposta a uma canção que o próprio Paulinho havia feito para a escola rival Mangueira.

 

A DANÇA DA SOLIDÃO (1972)

Disco com produção impecável e com certeza um dos mais importantes da carreira do sambista. A obra navega pelos mais densos sentimentalismos do músico. Paulinho herdou de Cartola um intimismo com suas canções que as tornam sinceras, tocantes. Só que, ao contrário do mestre que se deixava ofuscar pela morbidez, Paulinho transpunha para a viola suas desilusões, como mostra a faixa-título do álbum.

 

NERVOS DE AÇO (1973)

Sexto álbum de estúdio de Paulinho da Viola, com capa mais uma vez produzida por Elifas Andreato, em que o artista aparece em lágrimas, segurando um buquê de flores. A melancolia da capa se reflete nas canções do álbum falando de desilusão, tragédia, rancor e vingança, a começar pelo título, emprestado da música de Lupicínio Rodrigues, aqui recriado por Paulinho. Outro exemplo é o triste samba de Mijinha, “Sentimentos”, e a dolorida “Não quero mais amar a ninguém”, dos mangueirenses Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda.

Paulinho compõe harmonias sofisticadas para versos contundentes como nos sambas intrigantes “Roendo as Unhas” e “Comprimido”.

 

ZUMBIDO (1979)

Mais uma vez Paulinho apresente um disco absolutamente autoral com seus sambas filosóficos e super interiorizados. E mais, o disco foi gravado em apenas um mês! E uma das músicas do disco está nos ouvidos dos brasileiros até hoje: “Pode guardar as panelas”. Gravada em 1979, em plena ditadura militar, a música  descrevia as dificuldades dos trabalhadores brasileiros que sofriam com a carestia de vida. O disco, segundo o artista,foi dedicado a dois grandes sambistas Wilson Batista que ficou conhecido pela polêmica com Noel Rosa e também a Heitor dos Prazeres que também foi exímio pintor.

 

SAMBA NA MADRUGADA (com Elton Medeiros) (1966)

Trabalho do cantor Paulinho da Viola em parceria com o compositor Elton Medeiros o álbum foi lançado originalmente em 1966 pela RGE com o título Na Madrugada e posteriormente reeditado em CD em 1997 e 2002. Além das melodias próprias e do amigo Elton Medeiros o álbum mostra a regravação de O Sol Nascerá de Cartola e parcerias com Mauro Duarte, Casquinha, Candeia e Hermínio Bello de Carvalho, que assinou o texto de apresentação do disco. O disco que antecede os clássicos álbuns de Paulinho da Viola pela gravadora Odeon é um dos mais expressivos da música popular brasileira e um dos relançamentos que celebram os 50 anos de carreira do sambista.