Criado nas ruas do Rio, novo trabalho da companhia propõe intervenção pública em escadas simbólicas da cidade.
Por Assessoria /R3S
Subir aos céus, rolar escada abaixo: ascensão e queda, passagem e permanência, espaço público e privado. Em Degraus, seu novo espetáculo, o Grupo SATS passeia por essas imagens arriscando-se a ocupar a cidade dançando em escadarias públicas. A escada é um símbolo mítico no inconsciente coletivo: uma imagem que move princípios religiosos, morais e éticos, ligados à ideia de ascensão, hierarquia e justiça. Corresponde também a uma ideia de passagem, processo, peregrinação. Espaço transitório, a escada é, em si, um entre-lugar.
A estreia acontece em um espaço de relevância história e política da cidade: na escadaria de acesso ao Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), às 10 horas. A Câmara de Vereadores, na Cinelândia, também será palco para o espetáculo, em sessões sempre às 17 horas, nas escadas do prédio. A temporada segue até o dia 06 de outubro, sábados e domingos na ALERJ (10h), e aos sábados na Câmara (17h)
E foi também a céu aberto que “Degraus” começou a ser criado no início de 2019, mas precisamente na Rua Taylor, em uma escada que liga Santa Teresa à Lapa. Deisi Margarida e Rodrigo Gondim, intérpretes e diretores, buscavam incorporar à pesquisa coreográfica iniciada em UMAN – trabalho anterior do grupo – indagações sobre a ocupação do espaço público: O que seria habitar este vazio simbolizado pela escada, este lugar propício a tropeços, a queda, ao desequilíbrio? Quem tem direito ao trânsito na cidade? Olhando para outra direção, no caso, para baixo: quem se deita no espaço público?
– Na primeira imagem que nos vem à cabeça: os renegados do espaço privado. O chão da cidade é algo sujo, que se passa, apenas. E a escada é este solo de risco, com percalços, imprópria para a dança sofisticada do linóleo. Deste modo, refletirmos sobre método, a ideia de técnica, a ideia de coreografia e muitas outras questões – comenta Deisi.
Estar na rua abriu ao grupo novas formas de criar, mas também de se relacionar com a cidade e seu entorno, inclusive com o outro. Durante o processo, transeuntes da escada que serviu de “sala de ensaio” para a companhia interferiram cotidianamente no processo, de corpo presente – como os moradores de rua emocionados que abordavam os intérpretes – ou em rastros de passagem encontrados no lixo deixado para trás e até mesmo em furtos sofridos pelos artistas. Tudo, garantem, contribuiu para engrandecer o trabalho.
– Durante todo o processo estivemos na rua, tudo foi criado com a escada-cidade. A cada instante a nossa dança foi afetada pelo contexto da cidade. A aspereza do concreto nos obrigou a testar muitas formas de vestir e de se proteger contra as quedas e as entorses. Não ficamos ilesos. Lidar com a cidade abriu frestas em nós e por elas estamos passando – afirma Rodrigo.
Ao todo serão 16 aparições entre os dias 14 de setembro a 06 de outubro. O espetáculo tem classificação livre e em caso de chuva, o evento será cancelado.
SINOPSE
“Degraus” é uma ação em dança que usa escadarias públicas para pesquisar o corpo em situações de risco, queda e fracasso. A criação de uma fissura como ação na cidade é parte central deste projeto coreográfico. Tendo como base a dimensão simbólica e discursiva das escadas, o espetáculo tem como proposta restituir a dança à sua dimensão política, expondo o corpo, e dissolvendo as disposições convencionais entre o público e o privado.
SERVIÇO
14 de setembro a 6 de outubro
Escadaria do Palácio Tiradentes , sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ (PRAÇA XV)
Sábados e domingos, às 10h.
Escadaria da Câmara dos Vereadores (Cinelândia)
Sábados, às 17h.
Contribuição sugerida: R$ 20 (chapéu)
Classificação: livre
* Em caso de chuva, o espetáculo será cancelado.