O setor do audiovisual brasileiro, que movimenta cerca de 25 bilhões de reais ao ano, é respeitado e premiado no mundo todo.
Os frequentes ataques do governo federal às políticas ligadas à cultura tem um novo alvo: a Ancine, a Agência Nacional do Cinema. Depois de acabar com o Ministério da Cultura e subordinar a pasta ao Ministério da Cidadania, e reduzir drasticamente o teto de captação da Lei Rouanet , na semana passada o presidente Jair Bolsonaro afirmou que, se o governo não puder impor algum filtro nas produções audiovisuais brasileiras, ele extinguirá a Ancine. Ele inclusive já publicou decreto que reduz pela metade a participação de representantes da indústria cinematográfica no Conselho Superior do Cinema.
No mesmo ataque veio a redução do Conselho Superior de Cinema e sua transferência do Ministério da Cidadania para a Casa Civil. No final, o presidente ainda ventilou a possibilidade de mudar o escritório da Ancine do Rio de Janeiro para Brasília.
Para justificar seu feroz ataque às produções nacionais, Bolsonaro citou o premiado filme Bruna Surfistinha, longa de 2011 de Marcus Baldini que narra a história real de uma adolescente de classe média que vira garota de programa. “Se não puder ter filtro, extinguiremos a Ancine. Não pode é dinheiro público sendo usado para filme pornográfico…Não posso admitir filmes como Bruna Surfistinha com dinheiro público”.
O setor do audiovisual brasileiro, que movimenta cerca de 25 bilhões de reais ao ano, é respeitado no mundo todo, trazendo premiações importantíssimas para o Brasil ao longo os anos. O Filme Bacarau, de Kleber Mendonça filho, recebeu recentemente, o prêmio do Juri do Festival de Cannes deste ano, um dos maiores eventos do cinema mundial. São inúmeros os projetos culturais que colocam, a cultura brasileira no cenário internacional e que estão ameaçados de extinção. O Anima Mundi, maior festival latino-americano de animação só pode acontecer este ano porque os organizadores fizeram uma espécie de vaquinha cultural, porque a Petrobrás cortou o patrocínio.
Dados de 2018 apontam que, até setembro do ano passado, quase 20,3 milhões de brasileiros foram aos cinemas prestigiar as 192 produções brasileiras que estiveram em cartaz em mais de 3000 salas espalhadas pelo país. Considerando os últimos dez anos, o número de salas de exibição aumentou de 1.033 para 3.356; o número de longas metragens brasileiros lançados em salas de cinema saltou de 14 para 171; a participação da produção brasileira independente no horário nobre da programação da TV paga passou de inexpressiva para 20,8% (em 2017). O valor adicionado pelo setor audiovisual na economia brasileira aumentou em 182% em 7 anos. Ou seja, um setor que desempenha papel importante como gerador de renda e emprego dentro da economia criativa do país não pode viver sob constante ameaça.