Cria de Ipanema, semanário foi um marco da imprensa alternativa brasileira que provocou a ditadura militar com humor ácido e muita irreverência.

Por Jairo Sanguiné / R3S

Com pautas rascunhadas nas mesas de botecos da zona Sul do Rio e reuniões regadas a doses generosas de uísque, há exatos 50 anos, em pleno regime de exceção do AI-5, chegava às bancas um provocativo e irreverente jornal chamado O Pasquim, pequeno semanário que se transformou num marco da imprensa alternativa brasileira.  A própria origem do jornal e a verve de seus fundadores já anunciava que seu projeto iria revolucionar o modo de fazer e ler jornal no país.

Primeira edição foi às bancas do Rio em 26 de junho de 1969

A ideia surgira das mentes geniais de três jornalistas: Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, que queriam um novo jornal para substituir o humorístico “A Carapuça”, editado por Sérgio Porto, mas que acabou após a morte do seu editor. Em seguida juntaram-se ao trio outros humoristas, jornalistas e escritores que tinham na veia o humor e o sarcasmo:  Millor Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa. Contava ainda com as luxuosas colaborações de Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Antônio Callado, entre outros.

Com uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, que a princípio parecia exagerada para um jornal do porte d´O Pasquim, o semanário chegou vender mais de 200 mil em seu auge, em meados dos anos 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.

A linguagem solta e irreverente de seus textos, recheados de sátira e ironia, chamavam a atenção do público. Óbvio que essa irreverência toda, muitas vezes usada para criticar a ditadura militar em pleno AI-5, não escaparia da perseguição política que tomava conta do país. Boa parte da patota, como era conhecida turma que fazia O Pasquim, acabou presa em 1970. Mesmo assim o periódico não deixou de ir às bancas sob a editoria de Millôr Fernandes (que escapara à prisão), com e a ajuda dos colaboradores.  Além das prisões dos jornalistas, a redação d´O Pasquim foi também alvo de atentados a bomba, assim como as próprias bancas vendiam jornais alternativos, que passaram a ser alvo desses ataques, o que levou algumas bancas e se negarem de vender o semanário. Era o início do fim do irreverente OPasquim, que rodou sua última edição em janeiro de 1991.