“Somos trabalhadores, contribuintes e principalmente instrumento para divertir, emocionar e fazer o povo refletir”.
Por Jairo Sanguiné / R3S
Marcos Caruso é ator, autor e diretor. Tem em seu currículo mais de 40 personagens na TV, quase 30 no teatro e perto de 20 no cinema. Em mais de quatro décadas de carreira acumulou prêmios e reconhecimento nacional. Caruso é formado em Direito pela USP, mas é a dramaturgia que sempre o moveu profissionalmente. Inspirado nos comediólogos clássicos como Molière e Eduardo de Felippo, tem uma forte veia cômica a pulsar em seu corpo.
Não é a toa que a comédia “Trair e coçar é só começar”, escrita por ele há exatos 40 anos e encenada pela primeira vez em 1986, está em cartaz até hoje e com muita vitalidade e consta no Guiness Book como a mais longa temporada ininterrupta em cartaz do teatro nacional. “Somos um pais ensolarado e a comedia faz mais sentido com esse clima tropical, aberto. A personagem da empregada Olímpia é reconhecível por todos na nossa sociedade”, diz ele.
Confira a entrevista exclusiva concedida para a coluna “3 PERGUNTAS PARA…”, da Revista 3Sinais.
- REVISTA 3SINAIS – Como você avalia o atual momento brasileiro para a produção cultural no país?
MARCOS CARUSO – Estamos vivendo um momento difícil porque não temos definições. A lei Rouanet ainda não esta funcionado como o governo propôs. Acho que tinha que ser modificada, mas ainda não sabemos ainda como vai funcionar. Ou seja, estamos com uma espada nas nossas cabeças. A priori nos colocam todos no mesmo saco, nos misturando a pessoas que se locupletam com dinheiro publico. Também não temos políticas públicas claras para a Cultura… não temos sequer ministério. Isso tudo, essa total falta de definição acaba causando muita apreensão. Pelo que se desenha por parte do governo federa, não acredito que algo vá avançar, mas somos trabalhadores, contribuintes e principalmente instrumento para divertir, emocionar e fazer o povo refletir. Precisamos continuar com nossa arte a despeito das intempéries. O momento é bem difícil, mas sigamos…
- R3S – Como você vê o teatro brasileiro especificamente neste contexto?
CARUSO – Eu divido em duas partes, a parte o palco e da platéia. O teatro sobrevive há mais de 2 mil anos e sobreviverá a despeito de governo e das novas mídias. Nada substitui a relação dos olhos nos olhos que o teatro proporciona. Então nós continuamos fazendo nossos espetáculos, buscando alternativas, seja diminuindo a estrutura, os cenários e até mesmo o número de atores em cena, mas continuamos a trabalhar, a nos exercitar, a emocionar. Se você tem uma fábrica que entra em crise, você fecha a fábrica; no teatro, a gente acaba fazendo espetáculo na rua, num banquinho de praça… na crise o artista se torna mais criativo e não fecha sua fábrica. Claro que a gente continua a trabalhar longe das condições que gostaríamos, mas sempre foi assim, isso é atemporal. Essa é a parte do palco; A parte da platéia, o fato de termos pouco público não é só lamentável para quem faz teatro, mas é lamentável para o país. Veja bem, o país só evolui com boas hábitos, ou seja, se você não fomenta a cultura desde criança, você não pode exigir que o adulto vá ao teatro, ao cinema, a não ser em grandes eventos midiáticos. Temos um problema muito sério quando a Cultura parece não fazer parte do processo educacional do país. Seria muito positivo se a Cultura estivesse presente na Educação. Na frança, por exemplo, as crianças de sete anos lêem Molière na escola. Na Inglaterra, Shakespeare está presente nos currículos escolares. Na Itália, Goldoni, e por aí vai… Por que no Brasil nãoo é assim? A criança não tendo contato com a Cultura, óbvio que o adolescente também não terá e o adulto idem. Mas eu sempre digo que, enquanto houver um espectador, haverá teatro.
- R3S – Quas são suas inspirações e referências no teatro, e qual seu sonho de artista ainda não realizado?
CARUSO – Sempre foram os comediólogos, Molière, Eduardo de Felippo entre outros. O riso faz as pessoas refletirem, coloca o dedo na ferida dos problemas políticos dos seus países. Já jovem eu achava a forma que era a forma mais brilhante de fazer alguém pensar. Eu sempre lia os comediólogos, que são autores extremamente criativos. O meu sonho não parar jamais de trabalhar e o meu personagem é sempre o próximo, que eu não sei qual é. Não gosto de saber o que vou fazer, prefiro descobrir, gosto da surpresa, do imponderável. As coisas na minha vida foram acontecendo de forma conjunta, nunca separadamente. Faço vários trabalhos concomitantemente, então não tenho tempo de planejar o que fazer, assim as coisas vão surgindo e vou conquistando com os erros e acertos das escolhas.