“A arte é um dos meios mais importantes para transcrever as ideias e sentimentos da sociedade, da nação, do ser humano, da vida…”
Seu nome de batismo é Mariângela Assad Simão, mas é conhecida internacionalmente como Badi Assad. Seu sucesso mundo afora se deu por conta de seu virtuosismo ao violão além das das experimentações vocais e da percussão que completam suas manifestações artísticas.
Em 1994, a revista Guitar Player a escolheu entre os 100 melhores artistas do mundo! Já em 1996 a ClassicalGuitar considerou-a, junto com artistas como AniDiFranco, Ben Harper e Tom Morello, um dos dez jovens talentos que mais revolucionariam o uso das guitarras nos anos 1990
Com uma sólida carreira internacional já lançou mais 14 álbuns. No ano passado a cantora, compositora e violonista virtuose Badi Assad estreou na literatura no ano passado com “Volta ao Mundo em 80 Artistas”, livro em que passeia pela obra de 80 artistas da África, das Américas, Europa, Ásia e Oceania. Nomes de gerações e estilos variados, como Amina Annabi (Tunísia), Alt-J (Inglaterra), Lorde (Nova Zelândia), Kodo (Japão), Hozier (Irlanda), Angelique Kidjo (Benin), Björk (Islândia) e Camila Moreno (Chile). Entre os brasileiros: Elza Soares, Lenine, Bethânia e Gal Costa, Ney Matogrosso, Liniker, Egberto Gismonti, Filipe Catto e Inezita Barroso.
Agora o livro virou show e vai virar CD, com lançamento na próxima sexta-feira no Blue Note Rio. Confira a entrevista exclusiva concedida pela artista à REVISTA 3SINAIS:
REVISTA 3SINAIS – Como estão os preparativos para o lançamento do novo CD, baseado no seu livro “Volta ao mundo em 80 artistas”?
BADI ASSAD – A todo vapor! Na verdade estou bem curiosa para este lançamento apenas digital, pela primeira vez. Haha! Seria coincidência ser exatamente com um projeto que engloba viagens internacionais para eu me encorajar nesta nova aventura? O projeto abraça estratégias de lançamentos de singles acompanhados de video. Ainda não nos reunimos com todo o esquema de distribuição e marketing, por isso não sei precisar quantos singles serão ainda, mas em breve todos ficaremos sabendo.
R3S – Você tem enorme reconhecimento internacional, principalmente entre a comunidade jazzística e da música instrumental. Como você avalia esses gêneros entre o público brasileiro?
BADI – Infelizmente muito pouco explorados. O Brasil tem uma riqueza no universo da música instrumental enorme, porém nossos instrumentistas acabam não tendo muitas oportunidades de mostrarem suas obras. Caminham em uma roda marginal que não condiz com suas excelências. É triste testemunhar um país tão rico que não explore suas riquezas culturais em todos os níveis. Enfim…. O Jazz também é um gênero tido como elitizado. E não precisa necessariamente ser assim, porque apesar da erudição necessária para se transformar-se em um músico de jazz não é necessário ter nenhuma aquisição intelectual para se gostar e se deleitar com o gênero. No mundo, tanto a música jazzista quanto a erudita entenderam que a mescla com a modernidade musical é necessária para renovar seus escopos e atrair jovens. Os festivais de jazz , por exemplo, abraçam músicos como eu, que não sou uma representante do gênero, mas sim do ‘world music’. Aqui no Brasil falta esta visão mais globalizada ainda.
R3S – Como você está vendo a atual política cultural do país, com tantos cortes nos financiamentos públicos?
BADI – Triste e preocupante, mas ao mesmo tempo provocadora. Sair da zona de conforto não é algo ruim para a criatividade. Porém é terrível constatar que os governantes sempre entendam a arte como algo secundário. Mas também não nos enganam, pois sabemos que trazem uma consciência silenciosa de que a Arte é um dos meios mais importantes (além da educação verdadeira) para transcrever as ideias e sentimentos da sociedade, da nação, do ser humano, da vida… A Arte é o espelho que reflete nossos prazeres e dores. Então é mais fácil pensar em nos calar para, no silêncio das nossas alcovas criativas, poderem manipular as mentes de uma população distraída com suas necessidades básicas, e entorpecidas pelas armadilhas perversas das novas tecnologias. Mas nunca deixaremos de ser livres na Arte em nossa individualidade. É nisso que aposto. Continuaremos podendo educar nossos filhos! E isso também está faltando, não é mesmo?
R3S – Qual o papel da arte nesta conjuntura em que a cultura do ódio parece ganhar cada vez mais espaço na sociedade?
BADI – Fundamental! Até porque a Arte é gerada, apesar de seus conteúdos poderem trazer manifestos, de um lugar de Amor. A cultura do ódio não deixa de ser uma ação para descentralizar a sociedade. Transformar seus personagens em inimigos de si mesmos. A partir daí, o trabalho de manipulação massiva fica mais fácil.
R3S – O que o público carioca pode esperar do show no Blue Note?
BADI – Uma mulher que vive por sua arte e se alimenta dela; uma artista que acredita em se renovar todo o tempo; uma pessoa que não tem medo de enfrentar desafios e superá-los; uma mãe que aprende diariamente a equilibrar a distância entre os palcos do mundo e sua filha pré-adolescente; uma capricorniana que não tem preguiça de trabalhar; um ser humano em busca constante de se entender e continuar no processo de sua própria evolução e, por fim, uma cantautora/violonista que vai levar ao blue note seu mais recente trabalho: um show baseado no primeiro livro, trazendo histórias vividas por suas andanças, parcerias com músicos daqui e de acolá, suas influências e experiências profundas…
Assista ao Teaser do show: