“Bacarau”, de Kleber Mendonça Filho, disputará a Palma de Ouro com Tarantino, Jim Jarmusch, Almodòvar e outros medalhões do cinema mundial.
Por Jairo Sanguiné
O mais charmoso evento de cinema e um dos mais importantes do mundo, o Festival de Cannes 2019 começa hoje na Riviera francesa, e tem filme brasileiro na disputa pela Palma de Ouro, vencida uma única vez por uma produção brasileira, em 1962, com “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte. “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho é o indicado, e leva o diretor pernambucano pela segunda vez a disputar o cobiçado prêmio. Em 2016 concorreu com “Aquarios”, quando o cineasta e artistas do filme protagonizaram um protesto contra o golpe no Brasil contra a presidente Dilma Rousseff. O filme, rodado no sertão nordestino brasileiro, é co-dirigido por Juliano Dornelles e conta com Sônia Braga no elenco. O enredo aborda o violento cotidiano do interior do Nordeste a partir do encontro de uma equipe de documentaristas com uma população que pode trocar a docilidade pela fúria.
Outra produção que tem brasileiro envolvido na disputa pela Palma de Ouro (em co-produção com a Itália), rodado parcialmente no Rio de Janeiro, é “O Traidor”, de Marco Bellocchio, sobre o gângster Tommaso Buscetta. O Filme tem Maria Fernanda Cândido e Luciano Quirino no elenco.
Mas não é só isso. A veterana Fernanda Montenegro integra o elenco de “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, dirigido pelo cearense Karim Aïnouz. O filme concorre mostra paralela “Um Certo Olhar”, que exibe filmes de linguagem mais experimental e alternativa e valoriza cineastas menos conhecidos no circuito mundial.
Os diretores brasileiros estarão disputando a cobiçada Palma de Ouro com os consagrados Quentin Tarantino, Pedro Almodóvar , Terrence Malick, Jim Jarmusch, Ken Loach e os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne.
Assista ao teaser do filme Bacarau
Cannes, festival intelectualizado
Valorizado principalmente por ser mais prestigiado que o próprio Oscar no quesito qualidade artística dos filmes, Cannes é também considerado mais “intelectualizado”, ou seja, um espaço de visibilidade para para o cinema autoral. Em Cannes, longas, curtas e obras de todo o mundo podem participar, o que dá chance de premiação inclusive para cineastas em início de carreira.
Além da Palma de Ouro, Cannes tem o Grande Prêmio, o Prêmio do Júri e a Palma de Ouro para atriz, ator e curta-metragem, entre outros. Assim como outros festivais importantes como Berlim e Veneza, Cannes é uma vitrine de um tipo de cinema que, ao contrário de produções hollyoodianas, tem pouco ou nenhum apelo comercial, um cinema mais autêntico do ponto de vista artístico e autoral.
Apesar de ganhar cada vez mais apelo midiático, o perfil intelectual ainda permanece entra as produções inscritas. E a cada ano aumenta a
integração e colaboração entre artistas, diretores e críticos de todo o mundo. O Festival é também mais “democrático”, com a presença costumeira de filmes independentes, principalmente europeus, americanos e asiáticos que não podem ter presença em outros países devido à escassa difusão ou capacidade econômica das indústrias locais em comparação com as principais potências mundiais de cinema.
Cannes tem um prestígio enorme entre cineastas e artistas porque para participar, a produção passa por um filtro bastante severo, o que valoriza aind mais cada filme, mesmo que não sejam premiados. Sem falar no temível e implacável júri, que este ano será presidido pelo premiadíssimo diretor mexicano Alejandro González Iñarritu, que ganhou dois oscas consecutivos por Birdman (2015) e O Regresso (2016).
Confira os filmes que estão na disputa da Palma de Ouro
“The dead don’t die”, de Jim Jarmusch
“Les Misérables”, de Ladj Ly
“Bacurau”, de Juliano Dornelles e Kléber Mendonça Filho
“Atlantique”, de Mati Diop
“Sorry we missed you”, de Ken Loach
“Little Joe”, de Jessica Hausner
“Dolor y Gloria”, de Pedro Almodóvar
“The Wilde Goose Lake”, de Diao Yinan
“La Gomera”, de Corneliu Porumboiu
“A hidden life”, de Terrence Malick
“Portrait de la jeune fille em feu”, de Céline Sciamma
“Le jeune Ahmed”, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
“Frankie”, de Ira Sachs
“Once upon a time in Hollywood”, de Quentin Tarantino
“Parasite”, de Bong Joon Ho
“Matthias et Maxine”, de Xavier Dolan
“Roubaix, une lumière”, de Arnaud Desplechin
“Il traditore”, de Marco Bellocchio
“Mektoub, my love: Intermezzo”, de Abdellatif Kechiche
“It must be Heaven”, de Elia Suleiman
“Sibyl”, de Justine Triet