A 18ª edição da maior mostra do cinema brasileiro exibirá a nata da produção independente, com 155 filmes

Por Jairo Sanguiné com Assessoria

A profícua e diversa produção audiovisual brasileira é inquestionável, apesar das dificuldades de captação de apoio financeiro, e principalmente de distribuição, já que o mercado acaba favorecendo as grandes produções. Mesmo assim, o cinema independente , feito sem grandes patrocínios ou verbas públicas mas com liberdade autoral, sobrevive no país onde o setor cultural sofre diversos ataques por parte do governo e mesmo da própria sociedade, que por exemplo julga sem procurar conhecer como funciona o sistema de captação de recursos para a produção artística.

A prova de que o audiovisual brasileiro ainda resiste é a Mostra do Filme Livre, que depois de passar por Brasília e São Paulo,  termina a edição de 2019 no CCBB Rio de Janeiro, de 8 de maio a 3 de junho. Conhecida por evidenciar a produção independente, a “Mostra do Filme” Livre traz filmes feitos sem verbas públicas ou sem grandes patrocínios, e de viés autoral, além de ser a pioneira na exibição de filmes de diferentes formatos, gêneros, durações e épocas. Este ano a Mostra do Filme Livre exibirá 155 filmes de diferentes partes do país.  O projeto é patrocinado pelo Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A entrada é gratuita.

Além da exibição dos filmes de novos realizadores, a mostra destaca as homenagens ao cineasta mineiro Sylvio Lanna e ao jornalista e superoitista pernambucano Geneton Moraes Neto, com exibições de seus filmes e debates sobre a obra destes dois mestres do audiovisual. A MFL também fará a sessão Especial Júlio Bressane, exibindo seus dois trabalhos mais recentes: “Sedução da Carne” e “Nietzsche Sils Maria”. A MFL 2019 é dedicada às memórias de Geneton Moraes Neto (1956/2016), Geraldo Veloso (1944/2018) e Ricardo Boechat (1952/2019). Os pequenos também terão seu espaço com a Mostrinha Livre: sessões especiais com exibição de curtas infantis, alguns feitos por crianças – os alunos do Instituto Marlin Azul, do ES, que participam todos os anos com filmes cada vez mais interessantes e bem feitos, este ano têm 3 curtas dentro da Mostra.

Para completar a programação, a Mostra do Filme Livre promoverá debates, palestras e oficinas. De 17 a 19 de maio  acontecerá o curso DISTRUKTUR, com Gustavo Jahn, que  através de projeções e conversas serão analisados filmes contemporâneos que transitam entre a arte e o cinema, entre o experimento e a narratividade, entre o registro e a encenação, entre a palavra e o símbolo, entre as ações e as relações. Mais sobre em http://distruktur.com/   As inscrições poderão ser feitas pelo site da MFL, onde também se encontra a grade de programação:    www.mostralivre.com

A curadoria da MFL, formada por Gabriel Sanna, Diego Franco, Scheilla Franca e Guilherme Whitaker (mais conhecido como GuiWhi, também criador do evento), trabalhou ininterruptamente por três meses na escolha e programação dos filmes para que a mostra garanta a potência e qualidade das edições anteriores. Christian Caselli, Gustavo Jahn, Ana Farache e Paulo Cunha fizeram curadorias especiais.  A MFL 2019 recebeu 773 filmes – destes, 134 tiveram algum apoio estatal e 254 são de escolas de cinema. Já 550 dos filmes são inéditos no RJ. São Paulo foi o estado que mais inscreveu filmes, 185, seguido do RJ, com 180 e MG com 73.

Guilherme Whitaker enfatiza que a mostra busca, a cada ano, exibir o que de mais instigante e original é produzido audiovisualmente no Brasil. “É incrível que um evento com as características da MFL, focada em filmes fora do eixo comercial, em obras feitas não necessariamente para agradar, mas para inquietar, tenha conseguido chegar aos 18 anos! Isso comprova a força deste cinema urgente e possível de ser feito sem grandes recursos/patrocínios, a maioria dos filmes feitos entre amigos, via coletivos e/ou sozinhos, e o fato de sermos hoje o maior painel brasileiro para estas produções é uma conquista que dividimos com todos que, desde 2002, tem apostado que vale a pena reverberar tais conteúdos mais poéticos do que comerciais. Foram milhares de filmes, exibidos para centenas de milhares de pessoas Brasil adentro, que tiveram contato com este cinema urgente e possível de ser feito hoje!”

Homenagem a Sylvio Lanna

Mineiro de Ponte Nova, Sylvio Lanna entrou para a história da cinematografia brasileira e mundial em 1970, quando finalizou seu primeiro e único longa: “Sagrada Família”. Considerado um marco do “Cinema Marginal”, o filme é um radical experimento narrativo e técnico, com uma desconstrução sonora poucas vezes vista em película. Embora tenha vivido um grande hiato cinematográfico desde então, Sylvio quer deixar a fama de artista bissexto e acaba de realizar duas novas produções: o média “? In Memoriam – O Roteiro do Gravador” e o curta “Um Cinema Caligráfico” estreiam dentro da MFL. Outro quitute que será saboreado pelos espectadores é a raridade “Malandro, Termo Civilizado (ou Malandrando)”, média realizado em 1986 com participações de Moreira da Silva, Wilson Grey e Luís Melodia, que é praticamente inédito em tela grande.

Homenagem a Geneton Moraes Neto

Jornalista e cineasta pernambucano, Geneton Moraes Neto começa a realizar curtas experimentais por incentivo e influência do crítico Fernando Spencer no início dos anos 70, período que coincide com a popularização do super-8 sonoro, permitindo um cinema com total liberdade e pouquíssimos recursos. A filmografia de Geneton possui mais de uma dezena de curtas, documentários, ensaios e manifestos audiovisuais realizados em paralelo ao seu trabalho jornalístico, como um grito e uma resposta poética aos tempos de temperatura sufocante e ar irrespirável, incrivelmente semelhantes aos dias atuais.  A Mostra do Filme Livre vai exibir 9 filmes restaurados pela Cinemateca Pernambucana, realizados por Geneton entre 1973 e 1983 e a programação em sua homenagem tem a curadoria da Coordenadora de Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e da Cinemateca Pernambucana Ana Farache e do cineasta e professor da UFPE Paulo Cunha, codiretor dos curtas “Coração do Cinema” e “Esses Onze Aí”, que também serão exibidos na Mostra. As sessões dos curtas serão seguidas de debates e ambos os curadores estarão presentes para conversar com o público nos CCBBs de São Paulo, Brasília e Rio sobre a importante produção de Geneton no campo do audiovisual e sobre o legado de seus filmes.  Ana Farache e Paulo Cunha apresentam as sessões e participam de um debate com mediação do curador da mostra Chico Serra.

Especial Júlio Bressane

Júlio Bressane, um dos pilares fundamentais de nosso cinema autoral, é convidado especial desta edição da Mostra do Filme Livre. É com imenso prazer que iremos exibir seus dois trabalhos mais recentes: Sedução da Carne e Nietzsche Sils Maria (esse último em parceria com Rosa Dias e Rodrigo Lima). Para além do peso histórico de sua obra, é interessante notar sua capacidade de se reinventar e reinventar o cinema a cada novo filme, sem medo de experimentar novas possibilidades de linguagem e sobretudo sem se prender a fórmulas engessadas recorrentes em autores com obras tão extensas e reconhecidas. Muito longe de se acomodar com o próprio legado ele demonstra coragem pra tornar cada um de seus filmes único, sem perder a assinatura inconfundível de seu olhar tão singular e criativo para o mundo.

Especial DISTRUKTUR

Movendo-se através das fronteiras entre arte e cinema, experimental e narrativo, fotografia e imagem em movimento, Melissa Dullius e Gustavo Jahn exploram diferentes níveis da experiência sensorial e intelectual. Desestabilizam as noções do real e do imaginário ao mesmo tempo em que fundem as camadas de passado, presente e futuro. Deslocamento e transposição acontecem aqui como estratégias para produzir transformações, e as narrativas instáveis a que dão vazão sugerem que há muitas outras maneiras de comunicação além das normalmente conhecidas. Mais em  http://distruktur.com/about/

Premiação

Este ano a premiação terá três recortes: Os Panoramas Livres, com os melhores curtas e médias; os Longas Livres, com os melhores longas; e os Territórios, com curtas, médias e longas que tratam sobre questões relativas ao uso da terra, urbanidades e migrações. Em cada cidade um júri diferente vai definir o melhor filme e os premiados serão convidados a exibirem e debaterem seus filmes nas sessões de encerramento.  No Rio de Janeiro o júri, da Revista Beira ( https://medium.com/revista-beira) vai definir o melhor filme dos 5 longas das sessões Longas Livres.

 

MOSTRAS COMPETITIVAS

6 sessões Panoramas Livres – exibição dos 20 principais curtas e médias.

5 sessões Longas Livres = COMPETITIVA NO RJ – exibição dos principais longas.

5 sessões Territórios – exibição de filmes sobre questões relativas ao uso da terra, urbanidades e migrações.

 

MOSTRAS NÃO COMPETITIVAS

 

– Especial Bressane = Exibição de dois novos filmes de Júlio Bressane.

– 4 Sessões Autorias = com filmes de realizadores que possuem trajetória marcada pela inventividade e inquietação com as possibilidades da linguagem cinematográfica.

– 2 Sessões Mundo Livre = exibição dos filmes feitos fora do Brasil por brasileiros, feitos em condições distintas, onde o estranhamento com o espaço filmado interfere diretamente na linguagem.

– 4 Sessões Questão de Gêneros = exibição de filmes de diversos gêneros, da comédia ao terror.

– 7 Sessões Biografemas = filmes sobre inventores peculiares das mais diversas áreas e naturezas. Mais do que experimentos de linguagem cinematográfica, o programa se debruça sobre a potência explosiva dos artistas retratados, por vezes de forma naturalista, onde a grande força de cada filme reside não apenas em sua inventividade, mas sobretudo na forma como dão a ver suas personagens.

– 1 Sessão Pílulas = exibição de 12 filmes com até 5 minutos

– 1 Sessão Caminhos = exibição de 4 filmes de estudantes

– Mostrinha Livre = 2 sessões de 30min com exibição de curtas infantis, alguns feitos por crianças. Sempre aos finais de semana às 14h.

– Curta Rio = Sessões com filmes feitos nas cidades em que a MFL acontece.

– 1 Sessão Coisas nossas = exibição de filmes feitos pela produção e curadoria da MFL

– 10 Cabines Livres = exibição dos videoartes e filmes não narrativos passando em loop.

 

Sobre WSET Multimídia

A MFL é uma criação e produção da WSET Multmídia, também responsável no Brasil pelas mostras completas dos cineastas David Cronenberg e Michael Haneke. Mais em www.wsetmultimidia.com

 

Serviço:

18ª Mostra do Filme Livre

Local: Centro Cultural Banco do Brasil > Cinema I ( Rua Primeiro de Março, 66 – Centro)

Funcionamento: de quarta a segunda, das 9h às 21h.

Datas: de 08/05 a 03/06 de 2019

Horários: consultar programação

Entrada Gratuita: os ingressos serão distribuídos a partir de uma hora antes de cada sessão

Lotação: 98 lugares

Horários da Bilheteria: Das 9h as 21h. (tel.: 3808-2052)

Classificação: consultar programação por filme

Acesso para pessoas com deficiência: Sim

Patrocínio: Banco do Brasil

Realização: CCBB

Programaçã