Um dos eventos que viraram tradição no bairro chega à 11ª edição e acontece nos dias 27 e 28 no Parque das Ruínas e também ao ar livre nas imediações.
A sensação que se tem ao caminhar em Santa Teresa é a de estarmos num ambiente cujo tempo misturou-se e, a qualquer momento, ao entrar num dos típicos restaurantes do local, encontraremos jantando numa mesma mesa, às gargalhadas, Carmem Miranda, Bibi Ferreira, Pixinguinha, Djanira, Benjamin Constant, Vicente Celestino, Taiguara até o famoso assaltante do trem pagador, o inglês Ronald Biggs. Todos moraram no bairro em algum momento de suas intensas vidas. Um encontro impossível, mas deveras curioso.
Mas vamos deixar a imaginação de lado para efetivamente caminhar pelas ladeiras de Santa Teresa, o que por si só é uma experiência real e única, e nos remete a um Rio de Janeiro de épocas remotas, narrado em prosa e verso ao longo dos séculos por escritores, poetas, artistas e boêmios. (“…Olhou o céu, os ares, as árvores de Santa Teresa, e se lembrou que, por estas terras, já tinham errado tribos selvagens, das quais um dos chefes se orgulhava de ter no sangue o sangue de dez mil inimigos. Fora há quatro séculos. Olhou de novo o céu, os ares, as árvores de Santa Teresa, as casas, as igrejas: viu os bondes passarem; uma locomotiva apitou; um carro, puxado por uma linda parelha, atravessou-lhe na frente, quando já a entrar do campo”. Lima Barreto, O triste fim de Policarpo Quaresma).
O próprio trajeto para se chegar ao bucólico bairro é inusitado. Pode-se escolher subir a pé pelos 215 degraus da icônica escadaria Selaròn, colorida pelos mais de 1.200 azulejos oriundos de cerca de 60 países e reunidos ali pelo artista chileno Jorge Selarón (que também morou em Santa Teresa). Haja fôlego, mas é uma escalada que vale pela sensação de fazer parte daquela obra de arte gigantesca ao ar livre. Outra maneira um tanto insólita de se chegar ao bairro é de bonde. Sim, tal qual era no séc.XIX. O bondinho amarelo ainda resiste e é o principal cartão postal do bairro. Ir a Santa Teresa de ônibus pode ser uma alternativa…para os fracos.
Conhecido como a Montmartre carioca, Santa Teresa é um dos lugares mais queridos e charmosos do Rio. Ali a cultura e a arte parecem brotar das janelas e paredes coloridas das casas onde vivem intelectuais, artistas, estudantes universitários, artesãos. Cada restaurante, bistrô, boteco ou atelier, parece ser uma obra de arte. Até no ferro velho tem arte, onde a sucata nas mãos do artesão vira objeto de expressão artística.
Santa Teresa é, de fato, um bairro pitoresco. Não tem banco, mas tem livraria; não tem grandes lojas ou shopping, mas tem muito atelier de artesanato e de roupas personalizadas; não tem um centro de eventos grandioso, mesmo assim acontecem muitos projetos culturais, gastronômicos, artísticos e literários. Os eventos que fazem parte do circuito cultual carioca são realizados nas ruas, nos antigos palacetes ou casarões históricos – como o Parque das Ruínas e o Museu Chácara do Céu – chalés, e mesmo nas pequenas casas de arquitetura bastante eclética. Ali não há lanchonetes modernas, tipo Mac Donalds, mas conta com uma variedade de pequenos e charmosos restaurantes, com culinária alemã, italiana, francesa e, claro, brasileira, além dos clássicos botecos com muito samba e pagode. Ah, acredite, tem um cinema de calçada, e o mais importante, além dos filmes (com muitas sessões gratuitas), desenvolve várias atividades sociais, culturais e educacionais realizadas com instituições parceiras do próprio bairro.
11ª FLIST
Um dos eventos que viraram tradição no bairro é a Festa Literária de Santa Teresa – FLIST, que chega à 11ª edição em 2019 e acontece nos dias 27 e 28 de abril no Parque das Ruínas e também ao ar livre nas imediações. A festa este ano homenageia o cantor, compositor e escritor Chico Buarque e o escritor, ilustrador, artista múltiplo e palestrante Ivan Zigg.
Organizada pelo Centro Educacional Anísio Teixeira – CEAT, que está completando 50 anos, a Flist também renderá homenagens e tributos ao educador Paulo Freire e à escola de design alemã Bauhaus. Um verdadeiro festival gastronômico e cultural se espalhará por toda Santa Teresa. Em dez restaurantes do bairro haverá leituras de poemas, apresentações musicais e debates para acompanhar os pratos elaborados em homenagem às músicas de Chico Buarque.
Os trabalhos de Chico também serão apresentados por artistas e alunos do Centro CEAT). No primeiro dia do evento, sábado, está previsto um show batizado de Prata da Casa, que vai reunir no palco, pela primeira vez, Clara Buarque, Chico Brown e Lia Buarque, netos do cantor. E no domingo, encerrando o evento em grande estilo, será a vez do grupo Mulheres de Chico cantar sucessos como “João e Maria”, “A Banda” e “Roda Viva”.
PROGRAMAÇÃO DA 11ª FLIST
SÁBADO – DIA 27/04
Manhã
10h – Abertura
10h30 – Lançamento do jornal Língua de Brincar
10h30 – Teatro – A vida ideal das crianças
10h30 – Exibição do curta da Multirio, O Boto
11h – Teatro – Felizópolis – a cidade ideal
11h – Apresentação literária sobre Paulo Freire, com o cordelista Edmilson Santini
11h – Bate-papo sobre Lendas e Mitos Polêmicos na Literatura Infantil
11h – Contação de história – Chapeuzinho amarelo, Chico Buarque; Contação de histórias de Ivan Zigg
Tarde
12h – Lançamento da edição especial da Revista Philos em homenagem aos 50 anos do CEAT 50 anos, com as presenças de escritores e ilustradores
12h30 – Apresentação literária, musical e teatral Ópera dos malandros (apresentação literária, musical e teatral)
13h – Bate-papo com Virginia Cavalcante sobre o livro Exílio na primeira classe
13h – Bate-papo Aquilo que ninguém vê – a história por trás da História, com as autoras Andrea Viviana Taubman e Anna Claudia Ramos. A mediação é do escritor Igor Gonçalves
13h – O mundo de Narciso, contação de histórias, seguida de autógrafos, com a autora Tatiana Ribeiro
14h – Homenagem a Chico Buarque com o autor Elias Fajardo
14h – Bate-papo A casa e o mundo lá fora: cartas de Paulo Freire para Nathercinha, seguido de autógrafos de livros
14h – Apresentação poética Poesias ao vento: a brisa virou ventania
14h – Bate-papo O Chico sambista: tabelando com Ismael e Noel com o historiador Luiz Antonio Simas e o cantor Moyseis Marques
14h – Bate-papo Diáspora brasileira: O crime do cais do Valongo e Água de barrela, seguido de autógrafos de livros
14h30 – Chico em prosa, música e versos
15h – Café literário com Márcia Lobosco
15h – Contação de histórias Menino movimento, seguida de autógrafos de livros com as autoras Denise Calasans e Sandra Nascimento
16h – Bate-papo Guardados do coração: avô + avó = a voz, bate-papo, seguido de autógrafos com o autor Francisco Gregório
16h – Bate-papo Caminhos e descaminhos femininos: onde acertamos, onde erramos, com as especialistas Ana Beatriz Manier (autora e editora), Hilvânia de Carvalho (psicanalista e poeta), Iracema Macedo (filósofa e poeta), Jana Meilman (professora e romancista), Rosana Miziara (historiadora e poeta) e Maria Bitarello (jornalista/cronista)
16h – Artesanato, Leitura e trabalho na recuperação de presos (Bruno Parreiras)
16h30 – Leitura da peça Riobaldo. Adaptação da obra Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa com o ator Gilson de Barros
17h – Buarquianas: A Prata da Casa canta Chico Buarque
DOMINGO – DIA 28/04
Manhã
10h – A importância de bruxas, fadas e outros seres fantásticos na Literatura Infantil com autores da AEILIJ
10h – Apresentação musical – Os saltimbancos
11h – Exibição curta do Hugo, o Monstro, da MultiRio
11h – Autógrafos do livro Nuvem, com a presença dos autores
11h – Bate-papo A Suíça brasileira não é aqui: construção identitária de professoras negras no município de Nova Friburgo, seguido de autógrafos de livros (Márcia Lobosco – autora e professora)
11h – Contação de história Chapeuzinho amarelo com a contadora de histórias Cilene Oliveira
11h15 – Bate-papo sobre temas polêmicos na literatura para a infância com a MultiRio
Tarde
12h – Apresentação literária Paulo Freire: lendo o mundo em cordel, com o cordelista Edmilson Santini
12h – Leitura no Sítio atraca nas escolas com as professoras Antônia Pereira da Silva Lima, Eliandra de Oliveira Belforte, Gleidenira Lima Soares, Maria Antônia Fernandes da Silva e Suzi Shen Alcântara Pires. A mediação é de Glória Valladares Grangeiro, especialista em literatura infantil
12h – Sarau poesia A roleta do Chico
13h – Leituras e brincadeiras em versos Pulando de poesia, seguidas de autógrafos de livros com autora Cecilia Botana
13h – Homenagem ao ilustrador Ivan Zigg, seguida de autógrafos de livros
13h – Bate-papo Diáspora brasileira: Eles, seguido de autógrafos de livros com autor Vagner Amaro
14h – Bate-papo Carolina Maria de Jesus: uma biografia, seguido de autógrafos de livros com o autor Tom Farias
14h – Apresentação Lendas amazônicas com a contadora de histórias Lucia Morais
14h – Apresentação musical Apesar de você: Ensino Médio canta Chico
15h – Apresentação poético-musical com o Coletivo Caneta Preta de Poesia
15h – Bate-papo Como anda a literatura na Amazônia? Identidade e Cultura Amazônica na Literatura infantil e juvenil, com Jaqueline Gomes da Costa – mestre em literatura, professora de Rondônia e mediação da professora Maria Antônia Fernandes da Silva
15h – Mesa de debates Coisas (e pessoas) que viram outras: do lixo à arte, seguida de autógrafos de livros com o artista plástico Adilson Dias, a editora
Ana Beatriz Manier, a artista plástica Elê Nogueira e a autora Ninfa Parreiras 16h – Mesa de debates Temas polêmicos na literatura: 50 anos do CEAT com os professores Igor de Oliveira Costa, Marlene Araújo e Oswaldo Martins
16h – Apresentação musical com o Coral CEAT, sob a regência de Gloria Calvente Van Den Bos
16h – Bate-papo com Maria Fernanda Figueiredo “Desculpe a demora. Não repare na bagunça”.
17h – Show de encerramento com o grupo Mulheres de Chico