O artista múltiplo é o homenageado da Festa Literária de Santa Teresa, junto com Chico Buarque
O convidado para a seção “3 Perguntas Para…” é carioca-nômade: vive por aí. É auto-didata, o que significa que aprendeu a andar de bicicleta levando tombos, a cantar desafinando e a desenhar rabiscando.
Ele assina de cem livros infanto-juvenis e em 2004 recebeu o premio Jabuti de Ilustração Para Livro Infantil.
Também escreve suas próprias histórias como nos livros O Elefante Caiu, Todos os Meus Sonhos, O Livro do Rex e Só um Minutinho.
Artista múltiplo, de formação musical e circense, Zigg canta, conta e pinta ao vivo em bibliotecas, teatros, praças, comunidades e até hospitais. Suas bem-humoradas apresentações unem pais, filhos e avós em torno da arte e das histórias.
REVISTA 3SINAIS – Qual o sentimento de ser homenageado neste importante evento cultual que é a Flist?
IVAN ZIGG – Acompanho a Flist desde seu nascimento, um dos meus filhos estudou no CEAT e outro ainda estuda.A “linhagem educacional” que percebemos já pelo nome, Anísio Teixeira, demonstra a grandeza e os valores que estão ali envolvidos. É um orgulho participar. Essa homenagem foi uma grande surpresa pra mim estou muito feliz. A Flist é uma festa literária jovem, questionadora, dinâmica e com charme carioca, que pensa e faz cultura.
R3S – Quais são suas inspirações artísticas?
IVAN – Essa é uma pergunta que sempre tenho muita dificuldade responder, mais difícil que essa só aquela quando me perguntam no check in do hotel qual a minha profissão e eu tenho uma dificuldade imensa(risos), isso porque a minha raiz é baseada no ecletismo, não por opção mas por criação mesmo, espontânea. Eu nasci em Ipanema num momento muito efervescente do bairro, meus pais eram Bossa Nova e eu Tropicalismo quando era criança. Figuras como Chico Buarque, que agora encontramos nesta edição da Flist, foram meu despertar para essa coisa que une música com poesia…fui despertado por vários autores, como Monteiro Lobato, Cecília Meirelles. Fui despertado também pelo Cinema, e minha formação artística intuitiva, empírica, tem muito do cinema mudo, do clown cinematográfico, como Buster Keaton, Chaplin, Jacques Tati. Também fui muito influenciado pela dança quando percebi que ela também tem um componente de contar história. Tive também influência do teatro, pois minha mãe era atriz, o que me deu uma gama enorme de influências artísticas. O que aconteceu, na verdade foi um liquidificador com os movimentos do século XX, um século muito profícuo do ponto de vista artístico.
R3S – Sua obra tem um forte apelo político e social. Como você o papel do artista no atual momento político brasileiro?
IVAN – Tem duas situações aí. Uma que eu não me preocupo muito com isso, pois minha produção artística, que inclui as artes visuais e a música, eu a desenvolvo independente do que vai acontecer. O realce do componente social no meu trabalho acontece porque faz parte do olhar humano do artista. A outra questão é o engajamento, palavra que eu não gosto muito, pois prefiro falar em artista que se liga no seu tempo. Não que seja uma obrigação do artista, mas a arte é naturalmente questionadora, ela causa rebeldia, não é conformista. Prova disso é que em vários momentos da história, como na época da ditadura militar no Brasil e mesmo agora, em que os primeiros alvos são a arte e a educação pela potência de ambas. O artista que tem consciência de seu potencial para contribuir na transformação social, e mesmo libertação do ser humano, ele está sujeito a ser enquadrado como ativista político. Cada um tem uma maneira de manifestar sua arte. Eu vivi um pouco a época da ditadura no Brasil e pude perceber muitos absurdos que foram contestados pela arte, principalmente a música. Ou seja, o artista de tem uma espécie de ligação direta com a realidade social. É muito legal ver hoje músicos como Mano Brown, Emicida, e o próprio Chico Buarque, que é uma pérola literária, poética e musical, completamente antenados com seu tempo. De minha parte, apesar de algumas manifestações contrárias, recebo muito retorno positivo, ou seja, acho que acabo emocionando e mexendo com as pessoas também, e isso é muito bom.