Um ritual litúrgico teatral às avessas com a obra de Clarice Lispector no Teatro dos 4, a partir do dia 8/3
Por Jairo Sanguiné, com Assessoria
A obra de Clarice Lispector parece inesgotável. Mesmo tendo se passado mais de quadro décadas de sua morte, sempre é possível achar algum viés, algum detalhe em sua extensa obra para se trazer de volta o universo clariceano a um público igualmente inesgotável e em contínua renovação a cada nova geração.
Em 2016, o ator e diretor Eduardo Wotzik buscou o lado “sagrado” da escritora e montou o espetáculo “Missa Para Clarice”, que estreou no CCBB-RJ. De lá para cá já teve 300 apresentações pelo país e foi aplaudida por 45 mil espectadores. A peça já é considerada um fenômeno do teatro brasileiro e agora volta ao Rio nesta semana, no palco do Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, para uma nova temporada.
“Missa para Clarice é um ritual cênico, um espetáculo “sobre o Homem e seu Deus”, como setencia Worzik. Ele garante que a peça está absolutamente conectada o momento atual do país, em que a sociedade busca laços de pertencimento nesta nova configuração de Brasil.
Em abril, a montagem será apresentada pela primeira vez dentro de uma igreja. Será em Brumadinho, MG. Lá também acontecerá uma apresentação ao ar livre,, na praça central. Todo o projeto foi desenvolvido em torno da obra de Clarice Lispector. Os textos que compõem o espetáculo foram extraídos e editados a partir de sua notável produção literária. “Selecionei os que tinham como temática o Sagrado. Por isso, um espetáculo sobre o Homem e seu Deus”, explica Eduardo Wotzik.
De brincadeira, ele diz que já fez mais missa que muito padre na paróquia. “O objetivo é provocar a reflexão, a pensar divertidamente na nossa própria vida” conta. Ele interpreta um Arauto assistido por duas Beatas clariceanas que fazem do espaço do teatro um Templo de Reflexão. “Um espetáculo popular, um culto, que fala dessa ideia inteligente que o ser humano teve de criar dois sistemas extraordinários para suportar a realidade, o sistema religioso e a arte”, comenta Wotzik.
O público conta sempre com a presença de “fiéis” de verdade – há espectador que já foi assistir até 13 vezes. O ritual cênico tem inclusive uma espécie de ofertório no ato litúrgico teatral. Às avessas. É o público quem retira uma frase de Clarice para chamar de sua. Também é possível acompanhar cada momento da montagem, que conta também com as atrizes Christina Rudolph e Natally do Ó, através de um missal, especialmente desenvolvido par a ocasião. A direção de arte é de Analu Prestes, a iluminação de Fernanda Mantovani e a música do saudoso Henrik Górecki.
Nas palavras de Domingos de Oliveira: “Um passeio pelo estado da graça” e nas palavras de Fernanda Montenegro: “Uma ideia diabolicamente extraordinária. Um espetáculo que nos põe diante de uma nova religião, de um novo processo de espiritualidade. “O público se surpreende com a forma teatral como os textos são apresentados. Como numa missa, a todo momento o público é chamado a participar. Todo mundo embarca”, conta o artista.
Breve histórico
Eduardo Wotzik já realizou 40 peças teatrais e conquistou muitos prêmios. Moliere, com O Pássaro Azul, de Maeterlinck; o Mambembe, com A Geração Trianon; o MINC de Contribuição ao Teatro, com Bonitinha Mas Ordinária; o prêmio IBEU de direção, com Um Equilíbrio Delicado, de Edward Albee. Além dos prêmios para montagem: Eletrobras, com “Édipo Rei”, de Sófocles; prêmio Funarte com “Bonitinha, mas Ordinária”; o prêmio FATE, da Secretaria Municipal de Cultura, com Emily; o prêmio Eletrobras com a monta gem de “Estilhaços”. O autor superou todas as expectativas quando convidou o público para assistir a uma peça com 24 horas de duração, &l dquo;O In terrogatório – Uma Vigília” (de 2011), de Peter Weiss. O público assistia uma parte, saía e voltava depois, e os atores continuavam lá, em cena, durante um dia inteiro. Foi um sucesso. O carioca de Ipanema Eduardo Wotzikcomeçou a carreira no Grupo Tapa, que ainda tinha sede no Rio de Janeiro, e conquistou a crítica e o grande público com o aclamado espetáculo “Um Equilíbrio Delicado” (ano 2000), quando reuniu em cena nomes como Walmor Chagas, Tonia Carrero, Itala Nandi, Camilla Amado e Clarice Niskier. “Troia” e “Sonata Kreutzer” foram outros espetáculos de grande repercussão.
Ficha Técnica
Autor: Clarice Lispector | Texto final, criação e direção: Eduardo Wotzik | Direção de Arte: Analu Prestes | Iluminação: Fernanda Mantovani | Música: Henryk Górecki | Com: Cristina Rudolph, Natally do Ó e Eduardo Wotzik | Produção Executiva e Administração: Adriana Gusmão | Direção de Produção: Michele Fontaine
Uma realização da Wotzik Produções Artísticas
Serviço:
Missa para Clarice – Um espetáculo sobre o Homem e seu Deus
Com Eduardo Wotzik, Cristina Rudolph e Natally do Ó.
Sinopse: A partir de aspectos do Sagrado na obra de Clarice Lispector, um culto cênico parte da ideia inteligente que o ser humano teve de criar dois sistemas extraordinários para suportar a realidade, o sistema religioso e a arte
Local: Teatro dos 4 – Shopping da Gávea – RJ
Temporada: 8 de Março a 31 de Março. Dias e Horários: sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h. Ingressos: R$ 80 inteira R$ 40 meia.
Duração: 80 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos
Estacionamento no local.