Por Jairo Sanguiné, com Assessoria
Distante de estereótipos, primeira exposição individual da artista apresenta uma obra leve, alegre e que valoriza a autoestima.
O Rio de Janeiro é o segundo estado com maior percentual de autodeclarados pretos, ficando atrás somente da Bahia, segundo o IBGE. No entanto, é comum ver o negro carioca retratado de maneira estereotipada. Mas não este não é o caso da exposição “O Negro do Rio”, da artista plástica Geórgia Lobo, em cartaz no Centro Cultural dos Correios até 10 de março com abertura nesta quinta, 24. Muito pelo contrário, o propósito das obras expostas é exatamente mostrar a beleza natural negra, sem qualquer estereótipo. A temática negra, inclusive, passou a imperar na realidade das pinturas da artista. Há 7 anos a arte ocupa um espaço predominante na vida de Geórgia, “um espaço de reflexão, sonho, criação, entrega e transformação”, como ela mesmo define.
Apaixonada pela cidade do Rio de Janeiro, onde nasceu e reside, Georgia Lobo reflete em suas pinturas momentos do cotidiano que emocionam com sensibilidade e pinceladas fortes, marcas registradas de sua arte. Formada em Desenho Industrial pela Puc começou a pintar à óleo em 2007 . Como artista plástica, ficou em segundo lugar no concurso Novos Talentos da Cesgranrio e já teve vários quadros em novelas da Rede Globo. A própria exposição ‘O Negro no Rio’ surgiu após a encomenda de um quadro para uma novela onde o Rio de Janeiro seria o tema. “Comecei a esboçar a cena , coloquei Ipanema e quando ia desenhar duas meninas de biquíni asa delta no plano principal, de repente mudei de ideia e coloquei um negro de costas com uma bola na mão. Desde o início da minha ligação com a pintura , sempre que retratava o negro , era de uma forma leve, alegre, com bastante autoestima e a exposição será toda assim, totalmente longe de estereótipos”, diz a artista carioca. E acrescenta: “Desde o início esses personagens coloridos, de força e mistério, apareciam não apenas nas telas, mas na minha vida, no cotidiano, no meu olhar, em busca dessa verdade tão próxima.
Sobre o tema da exposição, Geórgia é bastante categórica: “está na minha árvore genealógica, nas minhas angústias, nas agruras de família, na solidão e na invisibilidade que a cor impõe e expõe. Um tema gerador de desconforto se descortina e reaparece na tela de forma transformadora fazendo com o que era motivo de vergonha vire orgulho, nessa jornada de sete anos redescobri que meu avô materno foi um herói anônimo”. Ela se refere à incrível história do médico André Ferreira dos Santos, filho de escravos, 12 irmãos, único na família a aprender a ler e escrever, caminhava mais de 7 km para chegar à escola, trabalhando como pedreiro se formou em Farmácia e depois em Medicina se tornando o médico mais famoso de Piracicaba no início do século passado.
“Como a sociedade recebia a ascensão de uma família negra numa cidade do interior de São Paulo em 1920? Eu adoraria ter tido a oportunidade de conhecer esses personagens que brotam das minhas telas quando criança e ter referenciais positivos opostos aos que são introjetados pelo nosso sistema sutilmente no dia a dia”, reflete a artista.
Com os genes que herdei desse personagem real incrível, com as experiências que viveu e presenciou, Geórgia pretende dar um destaque merecedor e que “possa ajudar a sociedade a se libertar desses preconceitos tão restritivos e tratar com respeito e admiração, dignificando essa cultura, essas raízes, a minha história que é também a de tantos outros”.
Um pouco da história da artista
Formada em Desenho Industrial pela PUC (1987), cursou pintura à óleo com a artista Suzanna Schlemm de 2007 a 2009. Recebeu, em 2013 o Prêmio de Cesgranrio Novos Talentos da Pintura –segundo lugar. Fez a inauguração da Galeria Georgia Lobo – Shopping Barra Garden – em junho de 2014. Participou da exposição coletiva no Projeto Arte no Mercearia, em agosto de 2015 em São Paulo. Na Mostra Morar Mais, em outubro de 2016, expôs pinturas no cenário da arquiteta Dolores Marafeli. De novembro de 2017 a fevereiro de 2018 expôs suas obras na Fábrica Bhering, no Rio de Janeiro. Teve várias pinturas utilizadas em cenários de novelas da Rede Globo: Guerra dos Sexos (pintura O Boxer); Em Família (Quase Yemanjá e Despertar, ambas no cenário fixo da casa da Bruna Marquezine); Em Família – no cenário do Galpão Cultural – a empresa dessa vez solicitou 11 telas que foram transportadas e ficaram por um mês compondo uma exposição fictícia. Sete Vidas com as pinturas Trancoso e Tattoo no cenário da casa de Débora Bloch tiveram muito destaque. Sol Nascente (3 pinturas : Casa de Campo, Sagrado Coração e O Lago, no cenário da casa da atriz Letícia Spiller. O outro lado do Paraíso (obra Ô Mada, no cenário da casa da atriz Éricka Januza).
SERVIÇO
O QUE: Exposição “O Negro no Rio”
QUANDO: de 24 de janeiro a 10 de março (terça a domingo, das 12h às 19h)
LOCAL: Centro Cultural dos Correios ( Visconde de Itaboraí, 20 – Centro. Corredor Cultural)
Que aqui nessas salas , eles (meus negros) apresentem seu ambiente idílico, de luz, igualdade e dignidade.-