Com temática exclusivamente negra, 7ª edição da FLUP será realizada no Cais do Valongo

A temática da sétima edição da Festa Literária das Periferias (FLUP) do Rio, que acontece de 6 a 11 de novembro, não poderia ser mais propícia neste momento: as vivências da diáspora e a negritude. A programação deste ano é exclusivamente negra e focada nas mulheres e terá como homenageada a escritora Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira escritora brasileira e pioneira na crítica abolicionista na nossa literatura, será a grande homenageada desse ano.

O local escolhido para a realização da FLUP este ano também é emblemático: o Cais do Valongo,  local que foi a porta de entrada dos africanos escravizados nas Américas e Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO. Berço do samba, do candomblé e da capoeira, o local é também  chamado de Pequena África. Durante os seis dias, a programação vai contar com mesas propositivas e desafiadoras, apresentações de poesia falada e atividades para o público infantil, somando mais de 80 escritores, poetas e debatedores nacionais e internacionais.

 

Djamila Ribeiro, presença confirmada!

 

Um dos maiores nomes do feminismo negro no Brasil, Djamila Ribeiro, já é presença confirmada nesta edição da FLUP. Autora dos dois best sellers que estiveram entre os mais vendidos nas recentes edições da Bienal do Livro de São Paulo e Flip — Quem tem medo do feminismo negro? (2018) e O Que é Lugar de Fala? (2017), ela fará na FLUP 2018 parao  primeiro lançamento carioca de “Feminismos Plurais”, coleção que coordena e que é uma parceria da Editora Letramento com o Justificando. Pesquisadora na área de Filosofia Política, Djamila foi destaque e a primeira brasileira a participar da Edinburgh International Book Festival, a maior feira de livros do mundo.

 

Rio Poetry Slam: Luana Bartholomeu na FLUP!

 

“Existe uma contradição na forma que as pessoas enxergam a África. Elas idealizam e potencializam demais o território ou só se baseiam no histórico da colonização e escravidão para nos definir. Temos que achar um equilíbrio e desconstruir essas imagens para não desumanizar as pessoas que moram aqui. Temos que buscar a África para nos reconectar com a nossa história e com o que o território e a sociedade é hoje”, disse a poeta brasileira e angolana Luana Bartholomeu, que estará no Rio Poetry Slam, campeonato mundial de poesia falada da #FLUP!

 

Filha de mãe brasileira e pai angolano, Luana tem dupla nacionalidade e divide sua vida entre a conexão Rio-Luanda. Foi vencedora da 2.ª edição do concurso de spoken word ‘Muhatu’ e vai representar Angola na FLUP. Ela também coordena a produtora de conexão cultural, Aláfia.

 

 

PROGRAMAÇÃO

 

06 NOV – Terça-feira

Palco Principal

19h – Abertura solene com Antônio Grassi

FBDC – Fórum Brasileiro de Democratização da Cultura

 

Mesa 01

(Apoio Sesc Rio)

19:30h – Maria Firmina – A Invisibilidade da Mulher Negra Também na Literatura

Eduardo de Assis Duarte, Giovana Xavier, Jarid Arraes e Luciana Diogo

Formato TED

A autora homenageada da FLUP é um clássico exemplo da mulher negra brasileira, historicamente invisibilizada. Intelectuais negras e negros têm trabalhado no sentido de resgatar a obra da autora de “Úrsula”, primeiro romance escrito por uma mulher negra nas Américas.

 

20:30h – Preta-Porter

Desfile de modativismo

Coordenação Izabella Aurora Suzart

Jovens estilistas negros fazem releitura do desfile com que Zuzu Angel denunciou a ditadura militar na década de 1970, agora para mostrar que o estado brasileiro mata jovens negros de nossas favelas.

 

07 NOV – Quarta-feira

 

Mesa 2

(Apoio Sesc Rio)

14h – Meu Machado

Maurício Hora e Geovani Martins

Mediação: Milton Guran

Uma da armas mais poderosas que a juventude da periferia dispõe para se inserir no mundo é a literatura. Tem sido assim desde Machado de Assis, maior escritor brasileiro da história. Escritores negros contemporâneos leem e discutem a herança desse cria da Rua do Livramento.

 

Mesa 3

(Apoio Sesc Rio)

18h – Renascença Sankofa

Bonaventure Ndikung e Saul Williams

Mediação: Eugênio Lima

Poucas vezes na história os artistas africanos e da Diáspora conseguiram rimar sucesso comercial e reconhecimento da crítica. A inclusão das narrativas negras no gps da arte mundial se deve a uma dialética Sankofa, em que os pés firmemente fincados na ancestralidade ajudam no salto para o futuro.

 

08 NOV – Quinta-feira

 

Mesa 4

(Apoio Sesc Rio)

16h – Na qualidade rara de sereia

Gilberto Gil e Liniker

Mediação: Heloísa Buarque de Hollanda

Um dos maiores nomes da história da música popular brasileira, Gilberto Gil ao lado de outros grandes artistas iniciou e fez eclodir a Tropicália, um movimento que gerou descontentamento da ditadura vigente e que contempla e internacionaliza a música e toda arte brasileira com suas criações libertárias. Foi Ministro da Cultura por mais de cinco anos e nomeado “Artista pela Paz” pela Unesco. Sua produção musical reúne quase 60 discos e em torno de 4 milhões de cópias vendidas, tendo sido premiado com 9 Grammys.

 

Mesa 5

(Apoio Sesc Rio)

18h – Feminismos plurais

Carla Akotirene, Joice Berth, Juliana Borges e Silvio de Almeida

Formato TED

O Rio de Janeiro começou a perceber a presença da mulher negra nos espaços públicos com a expressiva votação da vereadora Marielle Franco. Como mostra a coleção criada e organizada pela filósofa Djamila Ribeiro, ela própria um fenômeno de popularidade, aqueles milhares de votos depositados nas urnas foram apenas a ponta de um iceberg que tem abalado as estruturas do país.

Lecture Performance

 

18h30 – “Aqueles que estão mortos, nunca foram embora”

Boneventure Ndikung, Rafa Joaquim, Sol Miranda, Tainah Longras

Auditório Darcy Ribeiro

Lecture performance coletiva, guiada por Boneventure Ndikung, do texto “Those Who Are Dead Are Not Ever Gone”, sobre a manutenção da supremacia e a exploração da riqueza africana pelos museus europeus. Como o Fórum Humboldt, citado no texto, gigantesco e polêmico projeto em Berlim, que reúne coleções de arte e objetos históricos de todo o mundo, muitos deles oriundos dos sangrentos períodos coloniais na África e Ásia. Novos museus abrindo antigas feridas.

 

09 NOV – Sexta-feira

Mesa 6

(Apoio TV Globo)

14h – Página Reveladas

Maria Duda, Poeta SK, Raya e Ailton Graça

Três primeiros colocados do Slam Pequena África discutem a renovação do poetry slam no Brasil e no Rio de Janeiro, cada vez mais popular na periferia. Organizadora do maior evento de slam da América Latina, a FLUP foi uma das maiores responsáveis pela popularização e acima de tudo pela renovação da cena do spoken word na periferia do Rio de Janeiro.

 

Mesa 7

(Apoio Sesc Rio)

18h – Nossos Passos Vêm de Longe

Djamila Ribeiro, Tom Farias e Ungulani Ba Ka Khosa

Mediação: Thiago Ansel

Djamila Ribeiro, Tom Farias e Ungulani Ba Ka Khosa ganharam relevância em geografias e momentos históricos diferentes. Mas os três têm em comum o resgate de um pensamento ancestral, produzindo narrativas e discursos sobre fatos e personagens decisivos para a subjetividade negra.

 

10 NOV – Sábado

Mesa 8

(Apoio Instituto C&A)

14h – Quando lemos a nós mesmos

Carla Fernandes, Mtima Solwasi, Paula Anacaona

Mediação: Binho Cultura

Um dos grandes problemas dos jovens criados na Diáspora é que não são apresentados a livros de autores negros, com os quais possam reforçar seus vínculos de pertencimento e acima de tudo melhorar sua autoestima. Que estratégias estão sendo criadas para fornecer os espelhos de que todos precisamos para nos ver em nossos heróis?

 

Mesa 9

(Apoio Sesc Rio)

16h – Revoluções invisíveis

Ana Maria Gonçalves e Marcelo D’Salete

Mediação: Ale Santos

Os escritores negros têm demonstrado cada vez mais interesse no passado de seu povo, em particular pelas revoluções que somente à custa de muito sangue o poder colonial conseguiu sufocar.

 

Mesa 10

18h – As Áfricas possíveis

Felwine Sarr e Taiye Selasi

Mediação: Nick Barley

Uma África cada vez mais complexa e diversificada pode ser traduzida por dois neologismos criados por dois expoentes do movimento negro. A Afrotopia que deu título a um dos livros do filósofo senegalês Felwine Sarr fala de um deslocamento geopolítico em direção ao continente africano. E o Afropolitismo da escritora britânica Taiye Selasi aponta para uma geração de negros, como ela própria, totalmente integrada às grandes mudanças em curso na sociedade contemporânea.

 

20h

Prêmio Carolina Maria de Jesus

Quinta edição do prêmio com que a FLUP homenageia personalidades que tiveram o curso de suas vidas transformado pela literatura, ou que transformaram o curso da vida de outrens por intermédio da literatura.

 

11 NOV – Domingo

 

Mesa 11

14h – Primeira pessoa

Ana Paula Lisboa, Spartakus Santiago e Renê Silva

Mediação: Elisiane dos Santos e Valdirene Silva de Assis

Não é uma coincidência semântica o fato de as primeiras pessoas de uma família ou mesmo um bairro a trilharem o caminho do sucesso, usarem as próprias narrativas para ajudar suas irmãs e seus irmãos a rasgarem as cortinas da invisibilidade. Mais do que ninguém, elas sabem que a periferia precisa de referências.

 

Mesa 12

16h

40 anos de Cadernos Negros

Esmeralda, Marcio Barbosa e Selma Maria

Mediação: Márcio Black

Poucas publicações podem se gabar de ser tão longeva quanto os Cadernos Negros, cuja primeira edição, há exatos 40 anos, tornou-se um marco tanto para a literatura brasileira quanto para o nosso movimento negro. Assinaram suas páginas autores relevantes como Conceição Evaristo e Éle Semog.

 

Mesa 13

18h – E quando eles não admitem que são racistas

Mame Fatou Niang e Rokhaya Diallo

Mediação: Flavia Oliveira

Cidades como Londres, Paris e Berlim se veem como sociedades republicanas no sentido mais amplo da palavra, onde em tese todos teriam direitos e oportunidades iguais. Que narrativas podem ser criadas para desnudar o racismo dos países que se vêem como democracias inclusivas e generosas, principalmente em meio à crise migratória atual?