Simone Mazzer, em junho de 2016, recebia o prêmio de revelação no Prêmio da Música Brasileira pelo CD de estreia Férias em Vídeo Tape (2015). Revelação para o grande público que ainda não tivera a oportunidade de reconhecer seu trabalho e longa jornada como cantora e atriz. Tudo iniciou em Londrina, no Paraná, em 1991 quando ela começou a cantar, e rapidamente foi, digamos assim, “raptada” pelo teatro, e em 93/94, entrava para o Armazém Cia de Teatro, levando as duas carreiras em paralelo-  a de atriz e de cantora. No entanto, a mudança de cidade da cia de teatro para o Rio de Janeiro exigia dedicação integral, e a opção foi a interpretação.  Vale lembrar que mesmo se de dedicando à carreira de atriz, a de cantora continuava junto, porém com menos espaço. Mas como todo grande artista, os anseios não param, e a necessidade de extravasar sua criatividade fez com que em 2011 Simone Mazzer se jogasse e arriscasse definitivamente na carreira de intérprete.

Em maio desse ano chegou ao público seu segundo CD – Simone Mazzer e Cotonete (2017), a junção da intérprete com o grupo francês de jazz/funk. Produzido entre Brasil e França o projeto se mostra mais solar que Férias em Vídeo Tape e flerta com o funk, o jazz e a disco. Uma deliciosa brincadeira para os ouvidos.

Se misturarmos todas as possibilidades sonoras apresentadas por Simone e nos deixamos guiar pela intérprete, há muito que se aproveitar no novo show que estreia no Theatro NET Rio em 12 de setembro (terça-feira).  A gente foi atrás dela pra saber um pouco mais, e de quebra perguntamos sobre projetos, carreira… Generosa, nos concedeu uma deliciosa entrevista.

Simone Mazzer em performance com suas castanholas. / Imagem: reprodução de internet

O que o público pode esperar desse novo show que estreia no Theatro NET Rio dia 12?

Esse show do NET Rio as pessoas tem que ir com o ouvido livre, abertas e disponíveis. Tenho pra mim que essa é a melhor forma de você ir receber um projeto artístico. Ir com a cabeça livre, não chego nem a falar livre de expectativas, mas vai assistir, vai aberto pra ver o que vai ser e como vai ser. Mas adianto que vai ser um show pesado nesse sentido rock n roll mesmo.

Gosto e tem muito a ver com o momento que o país tá, e que o muno tá, não dá pra ser levinho agora. Não me sinto nesse lugar de leveza nesse momento, e também não tô impondo nada pesado ou que tenha esse peso em excesso pras pessoas. É só uma forma de expressão, e quando eu vi eu tinha optado pelo rock, que é onde as coisas se colocam de uma forma, não agressiva, mas contundente, pelo menos nesse momento eu percebi que era essa a hora de fazer isso.

Imagem: reprodução de internet

Você tem uma pegada Rock N’ Roll nas suas apresentações ao vivo, quais suas referências no Rock?

Tenho sim essa pegada rock n’ roll, mesmo cantando sucessos da era do rádio, que eu acho que são muito rock n’ roll na atitude, mesmo no momento mais dramático chega a ser punk, as vezes, de tão dramático. Gosto demais disso, acho que sou muito canceriana nesse momento. E concordo com as pessoas que eu sou muito dramática nas interpretações e tal. Sou rock total pra cantar qualquer coisa, de Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Lupicínio Rodrigues, Bjork… O rock tá em tudo pra mim.

Você transita bem em todos os tipos de canções (pop, rock, blues, jazz, samba…), mas tem algum que você se identifica mais?

Pra mim a grande mágica é essa, eu posso cantar qualquer coisa que me der vontade, intérprete tem essa missão, então eu me sinto muito à vontade pra transitar pelos estilos mais variados possíveis desde que a música se comunique comigo eu consigo retransmitir ela. Conseguindo fazer com que as pessoas sintam o que eu senti quando escutei a música, e isso pra mim independe de estilo, de levada e de conceito. O discurso que comunica, pra mim é o que mais importa, é o que me leva, é o que rege. Me sinto desconfortável de ter que ter uma etiquetinha, de cantar isso ou aquilo, isso de não estar e nenhuma gaveta especifica me atrai muito. Como o trabalho do ator –  você está ali pra assumir determinados personagens e criar, a música me possibilita isso e me atrai muito, eu gosto demais dessa liberdade.

Ao vivo seus shows são arrebatadores, com performances fortes de intérprete. Você por ser atriz pensa seus shows por um ângulo cênico também, ou trabalha pela emoção das canções?

Eu trabalho muito, nunca penso muito nisso assim pra interpretar uma canção. Uma direção mais cênica do negócio. Acho que é tudo muito intuitivo e acaba sendo regido, sim, pela canção, do que ela tá falando aí, e uma junção de fatores –  o arranjo, a instrumentação, o peso da música, a levada que ela tem, e a receptividade das pessoas. Como elas reagem aquilo é um ciclo, é cíclico, eu mando pra lá, e vem pra mim. Um vai e volta, um intercâmbio de emoções. Não dá pra não ter isso no palco, pra mim, lógico.

Imagem de divulgação do CD Férias em Vídeo Tape (2015) / Curiosidade: as canções “Tango do Mal” e “Estrela Blue” foram temas de novela.

No seu CD de estreia a gente tinha uma Simone mais soturna, pendendo para canções mais dramáticas, passando por clássicos populares. Em seu segundo CD percebemos você mais solar. Qual o motivo dessa transição?

Essa transição de um CD pro outro, essa textura, foi muito de conceito mesmo. No Férias em Vídeo Tape (2015) acabou ficando mais dramático, mais de estúdio mesmo. Porque a escolha do repertorio enveredou muito por esse caminho dramático da cena, onde eu me agarro sempre que eu posso.

Seleciono meu repertório, onde eu me encontro com a música é por esse caminho e o “Férias” traduz muito bem isso. Ao mesmo tempo o CD com o Cotonete também tem isso, mas eu fui mais pela sonoridade. Um tipo de som que eu gosto muito, quase uma big band, com muitos músicos, um som dançante, mas que tem esse apelo dramático nas canções, nas levadas, no discurso, só que noutro caminho. Foi uma transição natural, e ao escolher o repertório eu fui sendo levada por esse caminho, pela sonoridade da banda e por uma vontade minha de passear por esse terreno, mais solar mesmo.

“Solar foi o grande adjetivo desse CD (Simone Mazzer e Cotonete) pra mim, sempre foi”, diz Simone.

Capa do CD Simone Mazzer e Cotonete (2017). Curiosidade: essa imagem foi censurada algumas vezes pelo Facebook. Ainda nos perguntamos o motivo!

Recentemente você lançou o CD Simone Mazzer e Cotonete. Como foi a recepção do público para esse projeto que envolveu a banda francesa?

Pra esse disco foi muito surpreendente, foi quase imediata. As pessoas estão sedentas por músicas pra dançar, pra ter um colorido diferente, e tá sendo muito importante, muito bom. Apesar de ter feito poucos shows com eles devido serem de paris. Fica restrito por serem muitos músicos lá de fora, então fico na dependência de ter condições de tê-los por aqui pra gente circular com o projeto. A ideia é rodar pelo Brasil, pela Europa e por onde for possível. É um projeto paralelo, tanto pra mim, quanto pra eles. Quando for possível a gente vai se juntar novamente e seguir tocando. É um trabalho que rende muito pano pra manga.

“Eu quero muito fazer esse show mais vezes. Fica muito essa vontade, a ideia do projeto era essa, a gente gravou lá, foi pensado aqui, a pós-produção foi feita aqui, esse disco é do mundo e quero fazer muito ele por aí”.

 

Quais os próximos shows e projetos?

Próximos shows estamos aí esperando, me chama que eu vou! Estou aberta a novas frentes, tenho outros projetos a encaminhar, novos projetos no teatro e no cinema, série que vai estrear. Tô trabalhando bastante. Penso que apesar de tudo, da crie horrorosa, do fundo do poço, das coisas terríveis que a gente tem que enfrentar no dia a dia, tendo a acreditar que as coisas vão melhorar a medida que a genet for se movimentando pra isso. Não podemos ficar parados falando que tá tudo ruim, difícil, mas só posso falar por mim né. Eu optei por não parar e correr atrás, me alimento muito disso.

Me entristece muito ver o país do jeito que tá, com esses governantes da forma que estão nos tratando há tanto tempo, pois isso não é de hoje. Estamos vendo muita coisa que não é de agora, que vem desde o descobrimento do Brasil. Isso nos aflige de alguma forma, e a força de mudança disso tá na gente.  Acredito muito que com minha energia de trabalho eu consiga mudar, pelo menos, o universo em torno de mim, as pessoas que eu convivo, que eu trabalho, esse meu núcleo de vida que tem muito artista, muita gente boa. Isso pra mim é fundamental pra sobreviver no mundo de hoje, e pensar pra frente, não ter medo de se arriscar, de se atrever a fazer as coisas. E assim vou tentando mudar, não só como artista, mas como ser humano, porque eu ainda acredito que a gente possa mudar as coisas.

SHOW SIMONE MAZZER

Local: Theatro NET Rio/  Copacabana, Siqueira Campos – 143.

Data: 12 de setembro (terça-feira)

Hora: 21h

Ingressos: a partir de R$60,00

Ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do Theatro NET Rio ou pelo site Ingresso Rápido .

 

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