Conhecida pelo público como cantora e atriz, em seu novo projeto musical, agora solo, depois do Letuce, Letícia Novaes escancara as portas trazendo pra pista os amores partidos, com Letrux em Noite de Climão. O projeto lançado este ano, pelo selo Jóia Moderna, foi produzido por Arthur Brangati e Natália Carreira, e pela própria interprete, e já teve apresentações no Rio em julho. Esse mês a cidade recebe outra vez a dama de vermelho em noite de climão, pra mais esse encontro. O primeiro show acontece no Teatro Sérgio Porto, dia 7, mas já está com ingressos esgotados. Para os que estão se sentindo de fora, ainda dá tempo de participar do segundo show no Teatro Ipanema dia 8, mas há de se correr, pois do jeito que o climão tá, já já acabam-se os ingressos. (E como eu tava dizendo, nem bem acabei de escrever a matéria, 01:02 dessa madrugada, e os ingressos esgotaram para o show do dia 8!)
Letrux em Noite de Climão além de ser a estreia solo de Letícia, traz novas sonoridades para seu trabalho como intérprete. Para os
que já conhecem o som do Letuce, banda que formava com o ex-marido, Lucas Vasconcellos, é perceptível a distinção. Disco, rock, dramática, forte, lasciva, ela ressurge como uma gata revolta, uma diva melodramática por meio da nova persona, Letrux. A introdução do Cd dita o tom do que há por vir.
“que engraçado, sobrou tão pouco/ que tragédia, foi tudo tanto/ que engraçado cê não tá louco/ que tragédia eu tô um pouco (…)”
Daí em diante só melhora com canções como “Vai Render”, passando por “Puro Disfarce”, com participação de Marina Lima, chegando em “Flerte Revival”, com uma pegada discoteca total, lembrando um pouco “Confessions On A Dance Floor” de Madonna. Pra fechar o climão “5 Years Old” traz o que há de mais coração partido.
O climão generalizado tá aí, com os acontecimentos políticos e sociais no Brasil. O que dizer das vidas amorosas? Nada! É preferível dançar… Então dancemos, dancemos até não poder mais como no conto “Os Sapatinhos Vermelhos” do poeta dinamarquês, Hans Christian Andersen. São tantos os climões que passamos ao longo da vida, dos tragicômicos aos realmente trágicos, acabamos percebendo que dos nossos dramas surge muito material pra fazer arte. Nessa onda vem Letrux, em vermelho, sangrando e vociferando para os corações partidos. As imagens do show, a sonoridade e a interpretação de Letícia reverberam universos como de Almodóvar, David Lynch e outras referências que ela conta pra nós em entrevista.
O climão toca num lugar muito íntimo das pessoas, pois quem nunca passou por um climão! Como é esse climão pra você?
Ah, já causei muitas gafes e climões na vida, risos. Tenho uma noção em ser situada, mas normal também tropeçar. O climão é um momento de explosão, de não conseguir aguentar, mas pode ser pro bem ou pro mal, tá? Não acho que seja necessariamente ruim, tem climão que é de extrema importância, sinto. Eu evito, mas se necessário, causo.
De Letuce para Letrux, onde está Letícia? O que essa modificação de sonoridades e experimentos trouxe de novo pra você, e/ou você trouxe pra ele?
Eu estou fazendo o que eu gostaria de estar fazendo. Todss xs músicxs agregaram muito nesse disco, nossa, como sou grata a todxs. Acho que eu trouxe, mais do que nunca, minha composição, minhas letras, meu jogo de palavras. Dei muita atenção a isso, amo escrever, então a letra sempre vai ser parte principal para mim, sabe? Mas também co produzi, então de alguma maneira, fiquei muito mais atenta aos timbres e intensidades, e Arthur Braganti e Natália Carrera (que produziram comigo) também trouxeram experiências sonoras e arranjos deliciosos.
Letrux em Noite de Climão? Qual é desse climão?
Sou uma mulher engraçada, mas sou trágica também. Dada ao drama. Mas muito dada à galhofa. Acho curioso sorrir ou gargalhar enquanto se ouve uma música, quis trazer isso. Climão de riso, tensão, mas muita dança, muita vontade de botar o corpinho pra jogo.
A vibe “disco” do CD pega geral no projeto, o que te influenciou para criar esse clima? Você chegou a buscar referências em clássicos da discoteca ou veio naturalmente, do momento?
Não foi nada elaborado, engraçado. Amo a música Zodiac, da Roberta Kelly, cheguei a mostrar para o Arthur e Natália, mas não era uma coisa “Vamos fazer um álbum disco”, hahahaha! Mas quem sabe? Gosto muito de dançar, estava num momento dançante da vida, nossas inclinações foram indo para esse caminho e fomos percebendo de repente que o disco estava pra mexer o corpo.
Um climão, um brega e uma fossa, sempre pegam de jeito, mesmo os que fingem não gostar, de algum modo são atingidos. As canções do Letrux tem isso. Qual o “brega -fossa- climão” que te pega de jeito?
Ah, tenho meus dias de colocar Mina bem alto e dar uns gritos em italiano pela casa. Também posso ter meu eterno momento Raça Negra “me leva junto com você”. Mas as músicas mais fossas da minha vida, aquelas que não posso nem ouvir num dia feliz se não acabo com tudo são: “I’ve been loving you too long”(Ike and Tina Turner) e “How can you mend a brokenheart?” (Al Green)
Tem uma coisa passional Almodovariana na estética do show, mas também tem algo de David Lynch, e ainda o arquétipo da dama de vermelho. Onde se situa isso pra você, como criou essa estética?
Amo Almodóvar e David Lynch, e talvez tenha tudo isso mesmo sim, claro. Mas passeio por outros signos também, que são parte do caldeirão de influências que eu mergulhei desde que nasci, desde desenhos (a rainha má de Cavalo de Fogo tinha uma voz inesquecível), filmes como A Morte Lhe Cai bem, minha eterna paixão por Anjelica Houston em Família Adams, uma languidez passional curiosa, sou fissurada nela.
Vermelho passional na capa do CD, no show. Porque? Sangue, paixão ou close?
Porque foi golpe, estamos todxs sangrando, mas ainda estamos com paixão, sangue nos olhos e queremos outra coisa.