O rock brasileiro morreu, graças a deus. Foi uma música que uniu criatividade e diversão com eficiência. Confiscava algumas das nossas melhores cabeças para uma tradição que nem sempre nos dizia respeito. Nos últimos anos virou uma bobagem retrô que, consequentemente, pouca gente acha divertida. Mas algumas das nossas melhores cabeças ainda lutam nesse front como se a guerra estivesse prestes a ser vencida. É o caso do Pessoal da Nasa.
Esse “Testamento” (Toca Discos) é na verdade um retrato do que aconteceria se os praticantes tivessem tentado se manter relevantes. Mas aqui não há nada obviamente comercial. Há pop intuitivo. Diversão com criatividade. Mais: com inteligência. Poderia tocar no rádio, se o jabá e a criatividade não tivessem se divorciado.
Como é costume nesses tempos, a banda mistura diversas referências. Às vezes tão díspares que só o filtro baixo-guitarra-bateria fornece a coesão. “Boatos” é um tango disfarçado. “Férias” é zoadamente havaiana. “Silêncio no Cinema” cheira a pop anos 80. “Mantra Pop” é exatamente isso. A faixa-título começa com funk pra terminar em uma sequência de passagens épicas. Se a sensação de já ter ouvido isso antes aparece, é pra reconhecer que essa audição já era pra ter acontecido.
Os vocais parecem retirados da MPopB setentista e turbinados, situando a banda na tradição de localizar a linguagem que gerou os melhores momentos do rock nacional. E talvez o melhor sejam as letras, recheadas de momentos “olha o que ele fez”. “O Rio de Janeiro é muito belo, frequenta-se teatro de chinelo” em “Boatos”; “esse é o Zezinho, filho de família boa”, em “Zinho”, pra ficar só com dois.
Se é possível alguém fazer a Melisandre nesse cadáver, é o Pessoal da Nasa. Se você ainda tem essa esperança, ouça já.
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Texto: Roberto Neves
Imagem: Divulgação