Não é de hoje que Alejandro Zambra é um corredor de curta distância: seus livros em geral têm por volta de cem páginas. Mas “Múltipla Escolha” (Tusquets Editores), o mais recente, pareceria uma amostra grátis, não fosse o preço. O que é uma pena, porque o dito “maior escritor chileno vivo” está claramente ali, mas por pouco.

A estrutura de “Múltipla Escolha” é inspirada no Teste de Aptidão Verbal, espécie de vestibular vigente no Chile em 1993, com enunciados e opções. No começo o experimento parece fazer mais sentido para chilenos que passaram pelo teste. Ideias aparecem soltas nas “questões” e o resultado se assemelha a poesia, à qual Zambra se dedicou no começo da carreira.

Com o desenrolar do livro, as palavras vão se tornando frases completas, parágrafos, e as ideias vão tomando forma, abrindo portas para temas urbanos chilenos e pessoais. Em grande parte, as escolhas não alteram muito as ideias expostas, funcionando como pequenos parágrafos divididos em forma de questões.

É no pessoal que Zambra brilha, movimentando sentimentos embutidos nas relações familiares e nos incômodos acumulados na memória, não apenas dos chilenos. Os personagens e projetos de personagem lidam com vastos pormenores da experiência humana, em geral os mais negativos. E mesmo os incômodos com o ridículo do Chile se parecem com os nossos, com o ridículo do Brasil – a ditadura é um fantasma que paira e se mostra em alguns momentos.

O livro encerra com três pequenos contos e suas “respostas”, onde finalmente podemos visualizar de onde vem o sucesso de crítica e público de Zambra. E ficar querendo mais.

Múltipla Escolha
Alejandro Zambra
Tusquets
112 páginas

Texto: Roberto Soares Neves
Imagem: divulgação