A sensação é de claustrofobia, do início ao fim do filme, mas não apenas pelo fato da história levada às telas pelo jovem diretor egípcio Mohamed Diab no longa Clash, se passar inteira dentro de um camburão durante as manifestações públicas no Egito ocorridas após a destituição do presidente eleito Mohamed Morsi, em 2013. A falta de ar imposta ao expectador é tão simbólica quanto literal, pois nesse camburão encontram-se quinze personagens que representam todos os grupos ideológicos e religiosos que dividem o país, todos presos no mesmo camburão, incluindo velhos e crianças, impedidos até mesmo de fazer suas necessidades fisiológicas mais básicas.

Assistir ao filme é experiência para todos os sentidos e faz com que ali, na cadeira do cinema, cada expectador reflita sobre os conflitos humanos, todos eles, durante as quase duas horas de exibição, e saia da sala no mínimo com vontade de respirar ou mesmo fazer algo para mudar o mundo.

Roteiro e direção tiveram que fazer malabarismos para a ideia de um filme que resume o cenário a um camburão, funcionar. E conseguem. Tudo é muito cuidadoso, desde o enquadramento, a luz e a agilidade da história, que beira ao documentário.

Clash, uma experiência para os seus sentidos. Respire fundo antes de entrar na sala do cinema, pois o ar pode lhe faltar lá dentro.

Clash (filme de abertura da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2016)

Título Original: Eshtebak
Elenco: Hani Adel, Nelly Karim, Ahmed Abdelhamid Hefny, Ahmed Dash, Ahmed Malek, Ali Eltayeb, Amr Elqady, Ashraf Hamdi, Atef Ammar, El Sebaii Mohamed, Gamil Barsoum
Direção: Mohamed Diab
Roteiro: Khaled Diab, Mohamed Diab
Gênero: Drama, Suspense
Origem: França e Egito, 2016

Texto: Jairo Sanguiné
Imagem: Divulgação