Cine Joia, em Copacabana, fecha as portas para tristeza dos cinéfilos

Por Jairo Sanguiné

 

Ar setentista, poucos lugares, cadeiras coloridas e filmes alternativos. Esse é o Cine Joia, em Copacabana, uma verdadeira joia encravada na história cultural do bairro e da própria cidade e que anunciou, em nota nesta sexta-feira, 13, que está encerrando suas atividades.

Localizado no subsolo da Galeria 680, na Nossa Senhora de Copacabana, o Cine Joia foi fundado em 1970 como Cine Hora, e durou até 2005 quando foi fechado. Em 2011, revitalizado, foi reaberto a partir de um projeto da Vilacine, fundada por Raphael Aguinaga, como uma espécie de ilha isolada que se manteve por quase  dez anos (a partir da reabertura e revitalização com nova direção em 2011) com muita sessão de filmes cult, exibições de mostras de filmes independentes e, principalmente, filmes fora dos grandes circuitos comerciais do Ciema.

Segundo Aguinaga, o Cine Joia buscou resgatar as programações que valorizassem a qualidade artística das obras e facilitassem o acesso da população à sétima arte com ingressos a preços mais baixos que os cinemas de shopping, atual modelo de distribuição (e exclusão) de filmes no Brasil.

Além da exibição de filmes nacionais e internacionais, independentes e fora do circuito comercial das grandes salas de cinema, o Joia ainda foi uma sala fundamental para se rever grandes clássicos nos dias de Cineclube.

Ao longo da década, foram exibidas mais de 50 mostras e festivais, além de várias atividades paralelas, como o Corujão da Poesia. Chegou a ser convidado, por críticos de cinema, como a sala com melhor programação. Em março último, por conta do decreto estadual que determinou a quarentena na cidade por conta da pandemia, o estabelecimento, que contava com o contrato de patrocínio da RioFilme, teve que ser fechado. Com isso, o estabelecimento o deixou de receber os repasses mensais de R$ 10 mil já a partir de abril, o que acabou inviabilizando a manutenção do negócio.

Com o fechamento da sala de cinema mais charmosa do Rio, a cultura carioca perde uma linda referência. Fica a lembrança de muitas histórias testemunhadas por amantes do cinema e pelas lindas cadeiras coloridas da pequena e aconchegante sala

 

Leia nota do divulgada pelo administrador do Cine Joia

“Tudo que tem um começo tem um fim” disse o Oráculo para Neo. E finalmente chegamos ao fim de uma trajetória iniciada há dez anos imbuídos do sonho de ter um espaço de cinema, artes e educação democrático e inclusivo que pudesse se multiplicar Brasil afora.

Se eu tivesse que escolher um filme para resumir o sentimento seria “Rocky, Um Lutador”: mesmo desacreditados subimos no ringue, tivemos nossos momentos de glória e vendemos caro nossa derrota.

Quase chegamos lá. Não fossem as complicações morais e comerciais trazidas pela pandemia e o fato de que o nosso ex-patrocinador, a RioFilme,  decidiu nos abandonar quando mais precisávamos quem sabe teríamos um final diferente.

O sentimento que prevalece é o de gratidão à todos que de alguma forma sonharam junto conosco. Um agradecimento especial para minha mulher que se equipara em beleza e determinação à Grace Kelly em “Matar ou Morrer” no seu comovente apoio incondicional ao marido apesar das circunstâncias adversas.

Agora é o momento de celebrar as lembranças, cumprir as promessas e se preparar para novos caminhos: o mesmo conceito de excelência em programação e engajamento disponível online. Novidades em breve aqui na página.

Nossa trajetória logo será contada em um filme pois temos que fazer justiça aos nossos muitos colaboradores e existe na nossa história uma clara contribuição sobre o papel de um aparelho cultural como instrumento de paz.

Segue o teaser do projeto cujo texto está em inglês pois busca apoio em fundos internacionais de fomento à documentários e foi extraído de uma matéria de circulação internacional que apontou o Cine Joia como um dos sete cinemas independentes mais importantes do mundo pelo ineditismo da diversidade de sua programação cultural.

Viva o cinema!

Raphael Aguinaga