Ficção Científica de Diogo Liberano com atuação de Márcio Machado busca afirmar o amor em tempos de ódio extremo

Por Assessoria (Lyvia Rodrigues)

O Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil recebe, até 18 de agosto, de quarta a domingo sempre às 19h30, o monólogo YELLOW BASTARD, com dramaturgia de Diogo Liberano, direção deste com Andrêas Gatto e atuação de Márcio Machado. A décima criação autoral da companhia Teatro Inominável – que comemora uma década de existência – apresenta a história de um advogado com quarenta e poucos anos de idade que, subitamente, descobre ser um alienígena de pele completamente amarela.

A narrativa começa no planeta Terra, em 2033, num dia comum na vida desse homem considerado um clichê do homem vencedor: branco, heterossexual e profissionalmente bem sucedido. Aos poucos, por meio de acontecimentos que perturbam a enfadonha rotina do protagonista, sua segurança vai sendo colocada em xeque visando abrir questionamentos sobre a vida que levamos socialmente e aquela outra que escondemos de nós mesmos.

Neste fatídico dia em que se passa a trama, a vida capa de revista desse homem é decisivamente rasgada com o atropelamento daquela que ele julgava ser a sua mãe. No leito do hospital, ela revela que, ao contrário do que ele pensava, ele não nasceu dela, não é da Terra e a cor de sua pele, originalmente, nunca foi branca, mas sim amarela. Ao abrir um severo questionamento sobre quem de fato é esse protagonista, o Teatro Inominável busca estimular outra pergunta: e se tudo aquilo que acreditamos ser natural e orgânico em nossas vidas fosse apenas valores inventados?

Quisemos compor esta ficção científica para mirar a intolerância humana nos dias de hoje não como um fato natural e imutável, mas como saldo de um projeto de ódio perpetuado por alguns homens. Em nossa trama, propomos que há um projeto de deformação humana ocorrendo no planeta Marte desde o século passado. É para lá que são enviados seres humanos e que de lá retornam à Terra completamente desumanizados, intolerantes e odiosos, explica o diretor e dramaturgo Diogo Liberano.

Após a morte de sua mãe terráquea, o protagonista subitamente vê sua pele ficar completamente amarela e, por conta disso, é trancafiado numa cela e, em seguida, enviado a Marte, seu planeta natal. É em Marte que YELLOW conhece a sua primeira mãe, compreende o pernicioso projeto dentro do qual foi gerado e encontra um propósito renovador para a sua existência. É a cantora Letícia Novaes (Letrux), ao dar voz a primeira mãe do protagonista, que revela mais detalhes sobre a trama:

Você, meu desejo mais forte, mas também uma severa traição. Eu não tinha autorização para ser humana num projeto tão desumano. Nem eu nem seu pai. Cientista como eu. Fomos amantes por necessidade. Foi assim que você foi gerado aqui em Marte, porque precisávamos da lembrança que éramos humanos numa estação onde a paixão se tornou algo intolerável. Você, filho de nossa ira, mas nascido feito ódio ao contrário. Assassinaram seu pai e, nesta montanha, me aprisionaram. Implorei que me enviassem à Terra, mas um dia você escorreu de mim e, ainda que amarelo, veio guiado por olhos brilhantes. Quanto te viram, sua alegria era insuportável.

Por seu nascimento ser considerado uma traição, YELLOW foi extraditado à Terra e aqui viveu sua vida quase inteira. A peça começa no dia em que ele descobre ser um alienígena e volta a Marte para cumprir o seu destino. O projeto nasceu em 2011, quando o Inominável ensaiava Sinfonia Sonho, sua quarta criação. Na época, o ator Márcio Machado manifestou o desejo de criar uma peça que oferecesse à realidade algo mais positivo: de início, levantamos um vasto material da minha vida pessoal, episódios de bullying na infância e adolescência, a relação com minha mãe e a perda dela aos 12 anos de idade. Estávamos cientes que esse material pessoal era um ponto de partida para encontrarmos, no caminho do processo de criação, aquilo que intuitivamente eu chamava de “algo mais positivo”. Nossa busca, ainda que sem nome durante muito tempo, era propriamente pelo Amor. Eis o propósito de YELLOW: espalhar amor por tudo o quanto é lado e para cima de todo o mundo, afirma Márcio Machado, que pela primeira vez atua num monólogo.

Nas palavras do integrante do Inominável, Andrêas Gatto, que dirige YELLOW junto a Liberano: nossa proposta cênica foi calcada no corpo e na expressividade do ator Márcio Machado. Buscamos uma atuação marcada pelo exagero, utilizando caricaturas e um tom cômico hiperbólico. Tudo isso para colocar em perspectiva crítica a derrocada de nosso protagonista. Toda a peça é criada para que ele possa, de fato, reconhecer quem sempre foi: um ser estrangeiro e estranho, descomunal e, justamente por isso, singular e especial.

O cenário de Elsa Romero compõe espaços diversos para as bruscas transformações sofridas pelo protagonista. Num primeiro momento, um espaço comum e próximo ao espectador. Depois, uma estrutura capsular dentro da qual YELLOW é aprisionado e, ao fim do espetáculo, uma montanha em solo marciano sobre a qual o personagem faz seu derradeiro gesto. A iluminação de Livs Ataíde marca as mudanças de cor na pele de YELLOW: branco, amarelo, vermelho e preto. O figurino de Ticiana Passos se inspira numa importante referência do projeto e da vida do ator: o artista David Bowie. A diversidade de cores, formas e texturas do espetáculo – também evidentes na trilha sonora original de Arthur Braganti – compõem uma narrativa sonora e visual que funda um futuro menos distópico e apocalíptico e mais colorido e diverso.

Teatro Inominável

O Teatro Inominável surgiu em 2008 na graduação de Artes Cênicas: Direção Teatral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é composto pelos artistas, pesquisadores e produtores Andrêas Gatto, Clarissa Menezes, Diogo Liberano, Flávia Naves, Gunnar Borges, Laura Nielsen, Márcio Machado, Natássia Vello e Thaís Barros.

Em 10 anos de trajetória, realizou três edições da mostra de artes da cena Mostra Hífen de Pesquisa-Cena, além dos espetáculos e performances Não Dois (2009), Vazio é o que não falta, Miranda (2010), Como cavalgar um dragão (2011), Sinfonia Sonho (2011), Concreto armado (2014), O narrador (2014), poderosa vida não orgânica que escapa (2016), Nada brilha sem o sentido da participação (2017), dentro (2019) e YELLOW BASTARD (2019).

Em sua poética, o Inominável investiga relações diversas entre a arte teatral e a arte da performance, buscando pensar, repensar, escrever e reescrever sensibilidades outras para a interação afetiva e sócio-política dos indivíduos em sociedade.

 

CCBB 30 anos

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento.  Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial.

 

SERVIÇO

O QUE: Monólogo YELLOW BASTARD

QUANDO: Até 18 de agosto (quarta a domingo, às 19h30)

ONDE: Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ)

Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro/RJ

QUANTO: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada)